Milhares celebram nesta quinta-feira (25) nas ruas de Portugal o aniversário da Revolução dos Cravos, que há 50 anos derrubou a mais longa ditadura fascista da Europa e inaugurou a democracia no país.
As celebrações começaram na Praça do Comércio de Lisboa, à beira do Rio Tejo, onde duas fragatas estavam atracadas enquanto veículos militares e mais de 400 soldados desfilavam cantando o hino nacional sob aviões de combate que rugiam no céu.
Antonio Oliveira Salazar governou Portugal de 1932 a 1968, mas o regime durou mais seis anos sob seu sucessor, Marcello Caetano, e desmoronou apenas em 25 de abril de 1974.
A revolução quase sem derramamento de sangue foi conduzida por um grupo de oficiais do exército que queriam pôr fim à ditadura e às longas guerras contra movimentos de independência nas colônias da África. O golpe militar dos “Capitães de Abril” provocou uma rápida descolonização no continente.
Milhares de pessoas compareceram para aplaudir o desfile. Um deles era João Marcelino, 74, que disse estar preocupado com o recente avanço da ultradireita em Portugal, ecoando tendências em outros países da União Europeia. “A ultradireita está avançando porque os partidos tradicionais não estão desenvolvendo nosso país”, afirmou.
Embora a democracia multipartidária lusa tenha se mostrado estável e a infraestrutura do país tenha se modernizado desde 1974, em especial após a adesão à União Europeia e o acesso a fundos de desenvolvimento, Portugal permanece o Estado mais pobre da Europa Ocidental.
O descontentamento com uma crise habitacional desencadeada pelo aumento constante dos aluguéis impulsionou a ultradireita, assim como baixos salários, saúde precária e casos de suposta corrupção envolvendo siglas tradicionais.
O cientista político da Universidade de Lisboa Antonio Costa Pinto diz que, embora a maioria dos portugueses abrace a democracia liberal e se orgulhe da revolução de 25 de abril, a crescente popularidade do populista e anti-imigração partido Chega era o “elefante na sala” nas celebrações da Revolução dos Cravos deste ano.
“O Chega atrai aqueles que têm uma visão revisionista da história, com a ideia de que o colonialismo e o império não eram ruins e que o glorioso passado português e seus símbolos devem ser valorizados”, diz Costa Pinto.
O Chega faz uso frequente do lema de Salazar, “Deus, pátria e família”, com o acréscimo de “trabalho”. Seu líder, André Ventura, nega que ele ou seu partido sejam fascistas.
“Há cinquenta anos tivemos uma revolução que nos deu liberdade, mas, ao longo do caminho, nossa dignidade nos foi tirada”, disse Ventura ao parlamento nesta quinta, acusando os governantes social-democratas e os principais opositores socialistas de falharem em acabar com a pobreza.
Fundado em 2019, o Chega é hoje o terceiro maior partido de Portugal após quadruplicar seu bloco na eleição parlamentar de março.
Palmas