Depois de quase três meses se hospedando em um hotel no centro de Buenos Aires, Javier Milei finalmente se mudou para a residência oficial da Presidência da Argentina. A partir desta segunda (8), o dirigente vai viver e trabalhar na chamada Quinta de Olivos, no município de Vicente López, ao norte da capital.
A mudança ocorre um mês depois de sua posse, em 10 de dezembro, e parte da demora se deve à burocracia para construir os canis onde viverão seus “filhos de quatros patas”. São cinco cães da raça mastim inglês, todos clones de Conan, cachorro que o líder já descreveu como seu melhor amigo e morreu em 2017.
“Meus filhinhos ainda não podem se mudar porque são muito grandes. Saíram maiores que a média para a raça. Um deles mede dois metros em [pé sobre as] duas patas, para terem uma ideia, e alguns pesam mais de 100 kg”, disse Milei à rádio local Mitre neste domingo (7).
“A casa que poderíamos adaptar para eles ficarem não é uma construção muito forte para que sejam colocados os canis de ferro e todas essas coisas. Precisávamos fazer reforços nas paredes, e esses materiais são importados, e como eu não quero usar nenhum privilégio associado à minha posição, estou na fila esperando que cheguem os materiais para que isso possa ser terminado”, disse.
O presidente já havia indicado que trabalharia a maior parte do tempo na residência oficial, e não na Casa Rosada, no centro de Buenos Aires. Ele deve fazer o trajeto de 17 km até lá apenas às terças e quintas-feiras, segundo seu porta-voz Manuel Adorni, para as reuniões de gabinete que mantém com seus ministros entre 8h e 10h.
Além de receber os canis, a Quinta de Olivos foi pintada, teve os colchões trocados e sofreu adaptações em quartos de hóspedes para funcionários como sua irmã Karina Milei (secretária-geral da Presidência), Nicolás Posse (chefe de gabinete) e Sandra Pettovello (ministra de Capital Humano), afirma o jornal La Nacion.
A mudança começou neste domingo, com o transporte de objetos menores, e deve ser terminada nesta segunda. A comediante e imitadora Fátima Florez, com quem Milei anunciou seu namoro durante a campanha presidencial, em agosto, se deslocou junto com ele e deve acompanhá-lo pelo menos nesta primeira noite.
Segundo a jornalista Liliana Franco, autora do livro “Os Secredos da Casa Rosada” (2017) e colunista do portal Ámbito Financiero, a demora na mudança de Milei não aconteceu exclusivamente pelos canis, mas pelas burocracias para as adaptações da residência oficial em geral.
A arquiteta que projetou o espaço para os cães, por exemplo, precisou passar por autorizações para entrar no local, e a pessoa que será uma espécie de “governanta” da casa ainda não foi nomeada —integrantes do governo dizem que a obra será paga com dinheiro privado de Milei.
Paralelamente a isso, a demora teria ocorrido devido a uma suposta “limpeza de energias” na propriedade, versão que circula em diversos meios locais. “Não sei no que consistiu [essa limpeza energética], mas não foi somente pintar etc. Encontraram coisinhas estranhas”, disse Franco à rádio Mitre.
A Quinta de Olivos foi doada ao governo argentino em 1918 por Carlos Villate Olaguer, herdeiro sem filhos de uma família abastada. A doação estabelece que a propriedade deve ser ocupada pelo presidente, caso contrário pode retornar à família, um dos fatores que acelerou a mudança mesmo sem as reformas concluídas.
Há um mês no governo, Milei tem testado o equilíbrio dos três Poderes na Argentina, ao propor mais de mil artigos que alteram leis para dar um choque liberal na economia e promover mudanças nos sistemas trabalhista, tributário e eleitoral.
Mais de 300 deles foram feitos por um decreto de urgência, e mais de 600, por uma “lei ônibus” enviada ao Congresso, sendo que ambos começarão a ser discutidos no Legislativo nesta semana. A parte trabalhista das reformas já foi suspensa por três decisões judiciais, a última delas nesta segunda.