Este é um texto de memória. Memória que assegura que Roberto Dinamite, morto aos 68 anos neste domingo (8) em decorrência de um câncer, era quase um Zico. Cracaço.
No começo dos anos 1980, quando comecei a acompanhar futebol com grande interesse, era complicado conseguir assistir às partidas de futebol.
As de fora de São Paulo (minha cidade natal), então, inexistiam na TV, que oferecia apenas canais abertos: Cultura, SBT, Globo, Record, Manchete, Gazeta e Bandeirantes, que ainda nem era “o canal do esporte”.
Dava para assistir a um ou dois jogos por semana, na Globo (com Luciano do Valle) ou na Record (com Silvio Luiz). E o que passava mais na TV era o Campeonato Paulista, que naquela época era tão ou mais importante que o Brasileiro.
Ressalto que não havia internet, e nem imaginávamos que teríamos, cerca de uma década e meia depois, acesso à rede mundial de computadores, essa maravilha da tecnologia.
Então como eu conseguia saber das carreiras de Zico e Roberto Dinamite, que jogavam no Rio de Janeiro, respectivamente por Flamengo e Vasco da Gama?
De três formas. Pela revista Placar, que a cada semana trazia reportagens variadas de futebol e informações sobre os principais campeonatos do país (o Carioca entre eles), por programas esportivos na rádio Jovem Pan (Jornal de Esportes, na hora do almoço, e No Pique da Pan, à noite) e pelos “Gols do Fantástico”, quadro que fechava o dominical noturno da Globo.
Com a apresentação de Leo Batista ou Fernando Vanucci, os “Gols do Fantástico” traziam os gols dos principais jogos do dia, e Zico e Dinamite estavam invariavelmente lá, fazendo um, dois, três gols pelo rubro-negro ou pelo cruz-matino. Mega-artilheiros.
Eu me interessava não só pelo futebol paulista, mas também pelo dos outros estados, e o Rio chamava a atenção, no princípio da década de 1980, pela potencializada rivalidade entre Flamengo e Vasco, pelos duelos entre os craques Zico, um ano mais velho, e Roberto Dinamite.
Os dois, para mim, tornaram-se lendas vivas, admirados pela proficiência na arte de fazer gols e pela liderança técnica de cada um.
O Flamengo de Zico, o Galinho de Quintino, era o papão, o favorito, o time do momento. Então, naquilo de simpatizar com o não favorito, vi-me torcendo para o Vasco na decisão do Estadual do Rio de 1982.
E torcendo para Dinamite, pois qual garoto não gostaria de um jogador com esse apelido impactante, que a cada gol explodia em alegria intensa?
Tive até camisa do Vasco, vesti-a algumas vezes, mesmo não sendo torcedor da agremiação da Colina.
Naquela final carioca de 1982, que era concomitante a um Corinthians x São Paulo, decisão do segundo turno do Paulista no Morumbi, a TV passava o clássico Majestoso e exibia flashes do duelo no Maracanã, e em um lance Dinamite acertou, de falta, o travessão. Quase.
O Vasco acabou ganhando por 1 a 0 e sendo campeão, sem necessidade de gol de Roberto, que antes e depois marcou dezenas e dezenas pelo clube que defendeu por 22 anos.
No final de 2020, Walmer Peres Santana, historiador do Vasco, enviou-me números de Dinamite pelo clube.
Foram, de 1971 a 1993, 1.016 jogos oficiais como profissional (549 vitórias, 277 empates e 190 derrotas) e 617 gols marcados, o último deles no dia 26 de outubro de 1992, na vitória por 1 a 0 sobre o Goytacaz.
Flamenguistas não vão gostar da comparação, dirão que Zico foi muito melhor que Dinamite.
Na minha conclusão, pelo que pude ver e ler a respeito deles, ambos eram espetaculares, com ligeira vantagem para o 10 rubro-negro, mais habilidoso e mais rápido.
Na memória afetiva deste blogueiro, contudo, Dinamite supera Zico, já que atuou por alguns meses no futebol paulista, em 1989, pela Portuguesa de Desportos, sempre querida dos paulistanos.
Pela Lusa, o atacante anotou 9 dos 190 gols que fazem dele até hoje o maior artilheiro da história do Campeonato Brasileiro, à frente de Fred (158), Romário (154), Edmundo (153) e Zico (135).