Nos últimos dias, as tensões em Rafah, no sul de Gaza, têm alimentado preocupações crescentes sobre uma possível operação militar iminente. O principal representante humanitário da ONU, Martin Griffiths, compartilhou suas apreensões em uma entrevista exclusiva à ONU News nesta quarta-feira, alertando para o risco de um “massacre de civis” e uma escalada da crise caso Tel Aviv opte pela ação militar.
De acordo com o subsecretário-geral de Assuntos Humanitários, um eventual ataque a Rafah poderia agravar ainda mais a situação, tornando a fronteira com o Egito, que é a principal rota de entrada de ajuda humanitária, ainda mais restrita para a passagem de comboios de socorro.
Situação desesperadora
A região de Rafah abriga atualmente cerca de 1,5 milhão de pessoas que vieram de outras partes da Faixa de Gaza após o início do conflito. Com o possível aumento da violência, a imprensa internacional afirma que as autoridades israelenses falam em evacuar civis para áreas do norte, que foram alvo de bombardeios, tiveram infraestrutura abalada e onde a ajuda humanitária não chega desde final de janeiro.
Martin Griffiths ressalta que a ONU defende a liberdade de movimento, de acordo com o direito internacional, mas não pode liderar a iniciativa de movimentar as pessoas no enclave. “Não culpe as Nações Unidas pelo fato de não haver lugar seguro em Gaza. Não somos responsáveis pelo fato de não haver lugares ou segurança para transportar pessoas em Gaza”, afirmou.
Ao lembrar que vários funcionários da ONU morreram desde o início dos combates, ele afirma que a entidade não está “fugindo de suas responsabilidades humanitárias”, mas que seu mandato não inclui o “movimento forçado de pessoas para um lugar que é um lugar seguro em Gaza, o que é uma “ilusão”.
O subsecretário-geral reforça que a ONU “nunca abandonará o povo de Gaza”, ainda que a invasão israelense em Rafah force o fechamento da passagem de fronteira.
Sobre o deslocamento de habitantes, o porta-voz da ONU, Stephane Dujarric, também ressaltou nesta semana que as Nações Unidas não engajariam no movimento forçado de pessoas. O deslocamento forçado pode ser considerado um crime de guerra e relatores independentes de direitos humanos já fizeram alertas sobre a situação.
Negociações para ajuda humanitária e pausa nos conflitos
Martin Griffiths afirmou estar indignado com as “cenas de carnificina, redução da segurança e a compressão das pessoas em Gaza” e mencionou as negociações que estão em andamento recentemente no Cairo, no Egito.
Griffiths destacou que embora tenham sido discutidos pedidos para enviar comboios de ajuda para o norte de Gaza com as autoridades israelenses, estes foram negados por questões de segurança, uma vez que Israel é a potência ocupante na região.
“Portanto, não é como se não estivéssemos conversando com as pessoas. Conversamos com muitas pessoas. Negociamos com muitos lados, com muitas partes”, afirmou. Ele ressaltou os esforços para persuadir e advogar publicamente pela entrega de alimentos de Ashdod, em Israel, financiados pelos Estados Unidos para a Unrwa, à Gaza, o que foi bem-sucedido em negociações anteriores.
Griffiths relembrou também de conquistas passadas, como a abertura temporária das passagens de Rafah e Kerem Shalom, que permitiram uma pausa de sete dias, possibilitando significativo reabastecimento humanitário e assistência. “Pedimos um cessar-fogo humanitário imediato, uma oportunidade para a comunidade humanitária realizar seu trabalho”, enfatizou.
No entanto, Griffiths destacou as dificuldades enfrentadas devido às condições adversas, ressaltando a presença de “alguns dos melhores trabalhadores humanitários do mundo” que estão comprometidos com a assistência em Gaza, apesar dos desafios. “Temos boas pessoas, temos ajuda disponível, mas simplesmente não temos as condições que nos permitirão realizar a tarefa que gostaríamos de fazer”, concluiu.