Li que o papa Francisco declarou no Vaticano, diante de milhares de fiéis, em tom de preocupação em relação ao futuro do planeta, que no mundo “não manda o homem, mas o dinheiro” e que “o que domina é um sistema financeiro carente de ética”.
Faço essa introdução para abordar a saída do português Luís Castro, 61, do Botafogo.
O treinador que conduziu o time da estrela solitária à liderança folgada do Campeonato Brasileiro –iniciou a 13ª rodada com sete pontos de vantagem sobre o mais próximo perseguidor– decidiu romper o contrato, que iria até o fim do ano.
Castro assumirá a direção técnica do Al Nassr, da Arábia Saudita, que tem em suas fileiras seu compatriota Cristiano Ronaldo, 38, um dos melhores futebolistas deste século mas que está, mesmo tendo um físico privilegiado que o ajuda a se manter competitivo, nos estertores da carreira.
O que leva um treinador a trocar um caminho sólido rumo à conquista de um título de relevo no país pentacampeão mundial, que tem clubes de grande nome, camisa e tradição (centenários até, como o é o Botafogo), por um campeonato em uma nação periférica no futebol?
Essencialmente, o dinheiro. Castro, conforme publicaram sites esportivos, receberá acima de R$ 30 milhões anuais no Al Nassr, ou quase o dobro do que o Botafogo lhe pagava.
Por mais que o treinador tenha exposto que queria ficar, que gosta do clube e da torcida, pensando racionalmente não é uma proposta que se deva jogar fora, considerando que o seu novo e abastado patrão arcará com a multa rescisória, de cerca de R$ 10 milhões.
A maioria dos profissionais, de qualquer área, que recebe de uma empresa concorrente uma oferta financeira bem mais vantajosa, para desempenhar a mesma função, troca de emprego. Muita gente relaciona o dinheiro à felicidade, mesmo isso não sendo uma verdade absoluta.
A questão é justamente essa, a racionalidade das atitudes.
O futebol deveria ser (e até um certo dia, que já está uns 40 ou 50 anos distante, eu acredito que tenha sido) passional, uma atividade em que técnicos e jogadores valorizassem, mais que os cifrões, o amor pelo clube e por seus torcedores.
No futebol, só o torcedor cumpre esse papel de veneração. Ouvia quando mais jovem uma espécie de ditado (politicamente incorreto, mas que me parecia verdadeiro): “Você troca de esposa, troca de religião, troca até de sexo, mas jamais troca de time”.
É a tal fidelidade, abandonada pelos profissionais do esporte há algumas décadas. Não há mais apego às cores do clube. Falta envolvimento. Falta paixão. Falta amor.
É uma raridade um jogador começar a carreira em um time e terminar nele, ou se comprometer com a equipe por meia década que seja, caso tenha opção para fazer isso –muitas vezes o clube quer vender, pois precisa fazer caixa, e aí a decisão foge do atleta.
Porém o normal hoje, para treinadores e jogadores, é priorizar o lado econômico. Resumindo em uma frase: o dinheiro é quem manda.
Castro não é exceção, é regra, e, como consequência de sua decisão, vai engrandecer seu patrimônio e empobrecer seu destaque na mídia, já que os meios de comunicação quase não acompanham o tecnicamente limitadíssimo futebol saudita.
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