Desde sua implementação, meia dúzia de anos atrás, o VAR (árbitro assistente de vídeo) tinha uma função explícita: corrigir ou evitar “erros claros e óbvios” da equipe de arbitragem (juiz e bandeirinhas) que estava em campo.
Por exemplo, o vídeo serviria para assinalar um pênalti escandaloso não marcado, ou para desmarcar um pênalti em que o defensor foi limpo, na bola, porém o árbitro inicialmente viu falta no lance.
Também para corrigir um equívoco na distribuição de cartão. O árbitro de campo marca uma falta violenta de determinado jogador, só que se confunde e adverte um outro. O VAR deve corrigir esse equívoco.
A videoarbitragem tem seus méritos, e acredito, sem ter um levantamento numérico, baseando-me somente no acompanhamento dos jogos, que acerta na maioria das vezes. De maneira geral, torna o futebol mais justo.
O grande problema, para o qual ainda não se achou uma solução, é a demora que não raro se vê na análise dos lances pelo VAR.
Em lances de impedimento, então, a espera é “eterna”. São vários minutos em que se observam na tela ajuste de linha vermelha, ajuste de linha azul, e nada.
Ocorreu em Peru x Brasil, na terça-feira (12), pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, em Lima. No primeiro tempo, após cruzamento da direita, Richarlison cabeceou da entrada da pequena área, colocando a bola nas redes de Gallese, e saiu para comemorar.
O auxiliar na lateral do gramado não levantou a bandeira, não pareceu haver nenhuma irregularidade na jogada e, se Richarlison estava adiantado, era por margem extremamente irrisória.
Entra em ação o VAR. E trata-se de uma ação demorada. As linhas estão lá, o espectador que não está acostumado a elas fica sem entender o mecanismo, os envolvidos na transmissão televisiva tentam elucidar.
Faz parte. O que não deveria fazer parte é, em uma definição sobre um impedimento, quase sete minutos de delonga. Sete! Irrita, e muito (mas seis, cinco, quatro, três também aborreceriam).
Se a tecnologia é boa e eficaz, deveria trazer um veredicto imediato.
A impressão que fica é que a atuação humana ainda impera no ajuste do maquinário, e aí como ter certeza de que o congelamento da imagem foi feito no exato momento em que deveria ocorrer para aferir a irregularidade com precisão?
As linhas também parecem ser movidas, um pouco mais para cá, um pouco mais para lá. Sabe-se lá com qual critério. A minha conclusão, como observador, é a de que a confiabilidade da operação é falha.
Estou certo de que muitos mergulhados nestas linhas (as deste texto, não confundir com as tracejadas na checagem do VAR) pensam assim.
Chegando ao ponto que interessa: minutos comidos pelo VAR –que inclusive fazem o jogo terminar mais tarde que o esperado, com intermináveis acréscimos, por ser necessário acrescer o tempo parado– deturpam o seu conceito.
Quando se leva mais de meio minuto para detectar um erro claro e óbvio (um único replay deveria bastar), esse erro deixa de ser claro e óbvio. Notadamente há uma dúvida, e em um impedimento isso acontece com frequência.
Nesse caso o VAR deveria se eximir de opinar, de ficar interpretando o lance ou fazendo “ajustes finos” (que nem sempre me parecem precisos), e deixar válida a marcação do árbitro de campo.
Ainda haverá insatisfeitos, aqueles do time (ou que torcem para o time) cuja decisão não os favoreceu. Mas, em prol da fluidez e da dinâmica do futebol, que assim seja.
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