O ministro de Governo da Bolívia, Eduardo Del Castillo, afirmou neste domingo (30) que o general Juan José Zúñiga, apontado como líder da tentativa de golpe contra o presidente Luis Arce, ordenou que os militares atirassem, mas que um subordinado se negou.
“Zúñiga deu a instrução de atirar nas pessoas que estavam nas imediações do Palácio Quemado [sede do governo] e da Casa Grande [residência presidencial]. O comandante da oitava divisão, de acordo com algumas descobertas, disse a ele que não iria acatar essa ordem e Zúñiga o ameaçou de retirá-lo do cargo”, afirmou o ministro a uma rádio local, de acordo com o jornal La Razón.
“Imaginem se fosse outro membro das Forças Armadas, de menor patente, e tivesse obedecido a ordem. Provavelmente, neste momento, estaríamos informando a perda de milhares de bolivianos”, continuou Del Castillo. De acordo com Arce, 14 civis foram feridos à bala pelos soldados.
O ministro afirmou ainda que a insurgência estava sendo planejada desde maio e que, há algumas semanas, Zúñiga se reuniu com militares da reserva e em serviço, além de civis. Ainda de acordo com Del Castillo, os líderes da rebelião deram até cursos para ensinar os envolvidos a andar com tanques em áreas urbanas.
Na última quarta-feira (26), os bolivianos foram surpreendidos com uma tentativa de golpe televisionada. Naquele dia, militares rebeldes sitiaram a praça Murillo, na capital, durante várias horas, nas quais avançaram contra a porta do palácio presidencial com um blindado do Exército e entraram no prédio.
Na ocasião, Zúñiga disse, sem apresentar evidências, que Arce teria arquitetado um autogolpe para aumentar sua popularidade. A versão, reverberada por Evo Morales, padrinho político e atual rival do presidente, foi negada por Del Castillo no dia seguinte e por Luis Arce, em entrevista ao jornal espanhol El País, neste domingo.
“Não me surpreendeu”, afirmou o presidente sobre a reação de Evo. “Todos nós o conhecemos e sabemos o que quer. Ele vai usar tudo, inclusive por em dúvidas um golpe fracassado, para suas aspirações políticas pessoais.”
Os dois líderes disputam há meses a liderança do partido que dividem, o MAS (Movimento ao Socialismo), na tentativa de levar a indicação para as eleições presidenciais de 2025. No último sábado (29), a emissora boliviana Unitel compartilhou uma entrevista da agência de notícias EFE em que Arce fala sobre a cisão na sigla.
“A ala ‘evista’ pensa que Evo é o único líder, presidente e que pode fazer tudo, essa é a estrutura que ele quer”, afirmou. “Evo Morales já não é presidente do MAS, seu mandato acabou em 2016.”
Também no sábado, Zúñiga, que havia sido preso após o levante, foi transferido para um presídio de segurança máxima por ordem de um juiz que impôs seis meses de prisão preventiva ao militar.
Ele e outros dois militares suspeitos de liderar a quartelada enfrentam acusações de terrorismo e rebelião armada, pelas quais podem receber uma sentença de até 20 anos de prisão, de acordo com o Ministério Público. Outros 18 militares ativos e aposentados, além de civis, também foram detidos.
A política boliviana passa por diversos sobressaltos. Em 2019, alegações de fraude na eleição daquele ano e protestos massivos forçaram Evo, então reeleito para um polêmico quarto mandato, a renunciar e buscar asilo no México. Ele retornou ao país em 2020, com a vitória de Arce.