Um pesadelo marcado por derramamento de sangue, violência sexual, destruição, fome e deslocamento. Foi assim que o secretário-geral da ONU descreveu o conflito no Sudão, que completa um ano neste 15 de abril.
Em mensagem de vídeo exibida nesta segunda-feira na Conferência Humanitária Internacional para o Sudão e Países Vizinhos, em Paris, França, António Guterres disse que o mundo não pode deixar “este pesadelo desaparecer de vista”.
Financiamento para salvar vidas
Ele ressaltou que o conflito matou mais de 14 mil pessoas, feriu outras 33 mil e “reduziu casas, hospitais, escolas e outras infraestruturas vitais a escombros”, com mais de 8 milhões de pessoas fugindo de suas casas.
O líder da ONU lembrou que o Plano de Resposta Humanitária para o Sudão, no valor de US$ 2,7 bilhões obteve apenas 6% de financiamento. Ao mesmo tempo, o Plano Regional de Resposta aos Refugiados para a Crise do Sudão, no valor de US$ 1,4 bilhões, está apenas 7% financiado.
Guterres apelou à generosidade dos doadores para que intensifiquem as suas contribuições e apoiem estes esforços para salvar vidas. Ele apelou também para que todas as partes protejam os civis e garantam o pleno acesso humanitário.
O chefe das Nações Unidas expressou ainda o apoio aos esforços de mediação internacional para pôr fim aos combates.
Armamento de civis
Também nesta segunda-feira, o alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, alertou para uma nova escalada da violência, à medida que as partes em conflito armam civis e mais grupos armados se juntam aos combates.
Volker Turk disse que “o povo sudanês foi submetido a um sofrimento incalculável durante o conflito”, que foi marcado por ataques indiscriminados em áreas densamente povoadas, ataques com motivação étnica e uma alta incidência de violência sexual relacionada ao conflito.
O chefe de direitos humanos afirmou que “o recrutamento e o uso de crianças pelas partes em conflito também são profundamente preocupantes”.
Segundo ele, os civis já sofreram demais e, com relatos no fim de semana de um ataque iminente em El-Fasher, Darfur do Norte, há um risco “alarmante” de novas violações e abusos contra civis”.
Turk informou que três grupos armados declararam estar se juntando ao conflito ao lado das Forças Armadas sudanesas e há relatos de que tanto eles quanto as Forças de Apoio Rápido estão agora armando civis.
“Vidas destruídas e famílias dilaceradas”
Para a diretora-geral da Organização Internacional para as Migrações, o Sudão está “no limiar de uma catástrofe irremediável”.
Amy Pope afirmou que já existem 8,6 milhões de pessoas deslocadas pelos combates, “uma das maiores crises de deslocamento desde a Segunda Guerra Mundial”. Estima-se que 25 milhões de pessoas, mais da metade da população total do país, precisa de assistência humanitária.
Ela disse que esta crise “não se resume a números”, pois dentro do Sudão e em todos os países vizinhos, “vidas foram destruídas e famílias dilaceradas”.
Amy Pope ressaltou que à medida que os combates se espalham, “a insegurança alimentar aumenta, a saúde se deteriora e o abuso e a exploração persistem com aparente impunidade”.
7 mil novas mães sob risco de morte
Pope destacou que a conferência humanitária em Paris dá à comunidade internacional a oportunidade de “começar a corrigir esta situação, de restaurar a promessa de humanidade”.
Agências humanitárias, incluindo a Organização Internacional para as Migrações, apresentaram casos aos governos doadores pedindo que ajudem a aliviar uma das piores crises humanitárias dos últimos tempos.
Neste domingo, a ONU Mulheres apelou à comunidade internacional para que garanta que o conflito no Sudão não se torne uma crise negligenciada.
De acordo com a agência, mais de 7 mil novas mães podem morrer nos próximos meses se suas necessidades nutricionais e de saúde permanecerem não atendidas. Além disso, mais de 6,7 milhões de pessoas estão em risco de violência baseada no gênero.