Aviões israelenses atacaram mais uma vez Dahiyeh, subúrbio ao sul de Beirute, onde seis pessoas morreram e outras 25 ficaram feridas, no terceiro ataque aéreo contra a região nos últimos quatro dias.
É possível que se esteja testemunhando uma das ondas de deslocamento mais rápidas da história do país. Em um único dia, centenas de milhares de pessoas perderam seus lares. Em uma noite, a população de vários centros de acolhimento dobrou.
O êxodo em massa para lugares supostamente seguros se intensifica, enquanto já se fala de uma terceira Guerra do Líbano, após a invasão de 1982 e a Guerra de Julho, em 2006. As cenas são idênticas ao conflito desencadeado há 22 anos, como se as linhas do tempo se unissem e gerassem as mesmas imagens.
A catastrófica diferença é o número de vítimas e a intensidade dos bombardeios, que não têm precedentes. Por isso, os habitantes do sul estão fugindo urgentemente para o norte, provocando engarrafamentos quilométricos. Centenas de veículos estão presos na estrada Zahrani-Nabatieh, que liga o sul libanês a Beirute, e se amontoam no mesmo sentido e com a mesma intenção: salvar suas vidas dos temíveis ataques aéreos israelenses, que continuaram nesta terça-feira (24) sobre as cidades de Tiro, Sidon, Nabatieh e sobre o vale do Bekaa.
A capital se encheu de tristeza enquanto circulam a passo lento veículos com crianças sentadas nos tetos ou amontoadas na parte traseira de caminhões de verduras. Os homens se acocoram nos porta-malas dos automóveis.
Assim como em 2006, o Exército israelense avisou aos residentes libaneses que suas aldeias seriam atacadas, por meio de mensagens em seus telefones ou folhetos escritos em árabe. Este procedimento de aviso não foi implementado durante os dois dias de explosões de pagers e walkie-talkies, deixando um saldo de cerca de 40 mortos.
“Recebemos uma chamada anônima no telefone fixo e nos avisaram para abandonar nossa casa”, diz Ahmad, que dirigia seu veículo, levando esposa e quatro filhos. Muitos fogem para o norte, onde têm parentes; outros buscam países vizinhos, e muitos não sabem para onde ir. Libaneses já esperavam esse momento, considerando o apoio do Hezbollah ao palestino Hamas. Há 11 meses, havia famílias do sul que já estavam buscando moradias no norte à espera da ofensiva de Israel.
Moradores de aldeias no sul têm relatado ataques israelenses com bombas de fósforo branco, utilizadas também em 2006 e que podem causar queimaduras graves. O uso da substância não é proibido contra objetivos militares por nenhum tratado internacional, e Tel Aviv diz que lança essas bombas normalmente em áreas onde não há civis.
A ideia de que já se vive um conflito aberto com Israel está disseminada. “Estamos em guerra”, disse Malek, um jovem refugiado palestino. Ele não se referia a Gaza, mas sim ao Líbano.
Um dos destinos naturais de quem deixa o país é a vizinha Síria, cujo ditador Bashar Al-Assad emitiu ordem para facilitar o movimento e os procedimentos de entrada dos cidadãos libaneses. Desde as primeiras horas da manhã, o posto fronteiriço de imigração de Arida registra um fluxo intenso. “A maioria das pessoas que conheço escolheu fugir para a Síria porque já têm algum tipo de vínculo”, afirma Mahdi, a caminho da fronteira. “Embora eu não ache que seja o melhor lugar para ir agora.”