O noticiário esportivo recente está tomado por reportagens que mostram um esquema pelo qual jogadores de futebol brasileiros, com seu comportamento em campo, influenciaram resultados de apostas feitos em sites que atuam nesse segmento.
Com as investigações em andamento, oito atletas, sendo o mais conhecido deles o zagueiro Eduardo Bauermann (Santos), foram suspensos por um mês, pelo STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), das atividades profissionais.
Esse é mais um episódio que mostra que, nos bastidores, muita coisa suja acontece no esporte. Escândalos, relacionados a apostas ou não, ocorreram em tempos passados, não tão distantes assim.
Apesar de o jornalismo ter abordado com profundidade esses casos –como a Máfia da Loteria Esportiva, nos anos 1980, e a Máfia do Apito, nos anos 2000, ambos no Brasil–, não há do meu saber documentários que permitam aos interessados conhecer as histórias, os envolvidos, os desfechos.
Talvez a indústria do audiovisual se interesse agora, com os acontecimentos recentes, e elabore em um futuro próximo um filme ou série acerca do tema, que é relevante e acabrunhante.
O que é possível assistir agora, para quem assina Netflix (streaming), é “Jogo Comprado” (2021), um conjunto de seis episódios que tratam de escândalos esportivos não só no futebol, mas no automobilismo, no basquete, na patinação artística, no críquete e nas corridas de cavalos.
Eu vi “Footballgate” (traduzido para “Escândalo no Futebol Italiano” e com duração de 107 minutos), que não tem elo com apostas mas aborda as circunstâncias que levaram a poderosa Juventus, o clube que mais títulos acumula na Série A da Itália, a ser punida com a perda de dois “scudettos”, o de 2005 e o de 2006, além do rebaixamento para segunda divisão.
O documentário gira em torno de investigações da promotoria e da polícia italianas sobre Luciano Moggi, o principal dirigente da Juventus à época.
Telefones foram grampeados para buscar provas de tráfico de influência, e a conclusão foi a de que Moggi agia em combinação com a chefia da Associação Italiana de Árbitros para obter vantagens para a equipe de Turim.
Uma conversa revelou que Moggi escolhia árbitros que seriam favoráveis à Juve para participar do sorteio que definiria quem apitaria as partidas do time –e de outros duelos também.
“Footballgate” relata que em uma partida, com um juiz supostamente “juventino”, três jogadores específicos do Bologna receberam cartão amarelo, o que os deixava suspensos para o jogo seguinte, que era contra… a Juventus.
Um dos momentos interessantes registrados nas escutas é o de Moggi, inconformado com a atuação de Gianluca Paparesta em Reggina 2 x 1 Juventus, relatando em tom jocoso que trancou o árbitro no vestiário depois da partida e jogou a chave fora.
Paparesta, depois de forte lobby feito em um influente programa televisivo, cujo apresentador era próximo a Moggi, foi colocado na geladeira (afastado por um tempo da arbitragem).
Posteriormente, o árbitro negou em depoimento que tivesse ficado preso, concluindo-se que a fala de Moggi não passou de uma piada de mau gosto.
“Footballgate” traz, corretamente, a versão de Moggi, que em resumo declara que tudo não passou de um exagero, que não havia esquema algum, que todos os dirigentes de clubes falavam com a associação de árbitros e que o elegeram para bode expiatório.
Moggi, hoje com 85 anos, foi punido, após julgamento em tribunal de Napoli do caso conhecido como Calciopoli, com o afastamento do futebol por cinco anos e não voltou mais a exercer cargo no esporte.
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