O Sudão se tornou palco de todo o tipo de violações dos direitos básicos. A afirmação é do especialista da ONU para a Situação dos Direitos Humanos no Sudão Radhouane Nouicer.
Em entrevista para a ONU News, ele descreveu a crise no país como sendo marcada por execuções extrajudiciais, bombardeios indiscriminados, detenções ilegais, incluindo de ativistas dos direitos humanos e de representantes de ONGs, torturas, espancamentos, saques de propriedades públicas e privadas e valas comuns.
Impunidade na origem dos abusos
Falando de Genebra, o especialista opinou que “a impunidade ao longo de décadas no Sudão tem estado na origem de todos os abusos que hoje testemunhamos”.
Ele lamenta que apesar de muitas declarações e mecanismos criados para analisar estas violações, “não houve qualquer resultado nestas investigações”.
Para Radhouane Nouicer a prioridade no Sudão é “acabar com esta impunidade e levar à justiça as pessoas que cometeram crimes”.
Ele lembrou que minorias ou algumas comunidades foram especificamente visadas por outros grupos, o que alimentou o discurso de ódio em muitas áreas do país e que é preciso dar “um basta” em tantas violações.
Degradação econômica e social
Nouicer ressaltou ainda a grave preocupação com casos de violência baseada no gênero, especialmente violência sexual contra mulheres e meninas.
Em relação aos aspectos econômicos e sociais, o especialista sublinhou que “a economia entrou em colapso”. Cerca de 46% dos sudaneses estão desempregados e a moeda do país registou uma inflação de 250% nos últimos meses.
Além disso, 19 milhões de crianças sudanesas não frequentam a escola e o sistema judiciário foi “dizimado”.
Insegurança generalizada
O deslocamento massivo interno e externo atingiu níveis alarmantes, com mais de 7,6 milhões de pessoas forçadas a abandonar as suas casas e os seus locais de origem.
Noucier enfatizou que “a assistência humanitária é difícil de prestar devido à insegurança e a muitos outros obstáculos burocráticos”.
A maior parte do pessoal internacional da ONU foi evacuado devido à insegurança, mas a organização ainda conta com um escritório em Porto Sudão que atua na coleta de informações sobre violações de direitos humanos e realiza reuniões semanais com organizações da sociedade civil que atuam no país.