As Forças Armadas de Israel relataram estar travando “combates intensos” com o grupo extremista Hezbollah no sul do Líbano, no primeiro embate direto no país vizinho desde a guerra entre os rivais em 2006.
O porta-voz militar Avichay Adraee publicou na manhã desta terça (1º) no X uma mensagem em árabe descrevendo o cenário e instando os libaneses a não usar estradas entre o sul do rio Litani e a fronteira com Israel.
Seu chefe, Daniel Hagari, por sua vez disse que estão sendo atacadas vilas usadas como base pelo Hezbollah. Ele lembrou que o grupo tem um plano público chamado “Conquiste a Galileia”, muito semelhante ao 7 de Outubro do Hamas. “Não permitiremos que isso ocorra”, postou em vídeo.
Segundo as Forças de Defesa de Israel, as incursões são “limitadas e localizadas” contra alvos que representam “perigo imediato a comunidades no norte de Israel”. O Hezbollah por ora tergiversou, apesar de relatos múltiplos de combates, dizendo não ter identificado uma invasão.
De fato, por ora Israel parece estar testando o terreno e talvez seja sincero no seu objetivo declarado, buscando evitar o emprego maciço de tropas, preferindo ações pontuais. Mas este é só o primeiro dia desta nova etapa da guerra —em 1982 a invasão também seria localizada, e durou 18 anos.
A ação vem após duas semanas de reviravolta na guerra iniciada há quase um ano pelo ataque do grupo terrorista Hamas a Israel, que foi seguido pelo apoio algo contido do Hezbollah com atritos na fronteira norte isralense. Ambas as agremiações integram o dito Eixo da Resistência coordenado e financiado pelo Irã.
Nesta madrugada, o Hezbollah lançou 15 foguetes na região de Metula, ponto mais setentrional de Israel, que está evacuado há um ano. Já pela manhã, foram uma dúzia de alertas aéreos em vários pontos do país, inclusive Tel Aviv.
O grupo disse ter ferido soldados israelenses, o que não pôde ser confirmado. “Ouvimos helicópteros o tempo todo, mas não vi movimento [de tropas]”, disse à reportagem o chefe da Defesa Civil do kibutz She’ar Yashuv, Gidi Harari. Ele mora cerca de 10 km a sudeste de Metula.
Toda a área entre o Litani e Israel deveria ser um tampão entre o Hezbollah e as forças de Tel Aviv se os extremistas tivessem respeitado o acordo firmado pelo Líbano e o rival, sob os auspícios da ONU em 2000, quando os israelenses encerraram sua ocupação.
A operação terrestre, cujos preparação havia sido antecipada na semana passada pela Folha, ocorreu após o ápice da campanha aérea de Israel no Líbano: o assassinato do líder do Hezbollah, xeque Hassan Nasrallah, em um bombardeio em Beirute na sexta passada (27).
Além de dizimar a cúpula da organização, os ataques miram também aliados dela no Líbano. Depois de matar um líder do Hamas e três da Frente de Libertação da Palestina na segunda (30), os israelenses atacaram um campo usado pela facção majoritária palestina Fatah no sul do Líbano.
Houve bombardeios no sul de Beirute e em outros pontos do país também. A violência da ação gerou uma crise humanitária no Líbano: além de ter matado cerca de mil civis, o governo estima que possa haver até um milhão de deslocados internos, ou um quinto da população do país.
Por ora, como de costume, o ataque de Tel Aviv está sendo bancado por Washington. Na segunda, o presidente Joe Biden disse que estava ciente da situação, e o Conselho de Segurança Nacional dos EUA disse ao jornal Times of Israel que a ação está em linha com a defesa das comunidades do norte libanês.
O tema da segurança na região é muito caro à opinião pública israelense: 60 mil moradores tiveram de deixar suas casas. Isso pode dar crédito ao contestado premiê Binyamin Netanyahu inicialmente. Mas, como no seu fracasso em solucionar a guerra em Gaza e trazer os estimados 64 reféns ainda vivos na mão do Hamas, isso tem prazo de validade.
Até aqui, Netanyahu parece estar operando à vontade, bancado pela coalizão de extremistas religiosos que sustenta seu governo. Para críticos, ele está mais interessado em manter-se no poder, alheio ao risco de ser preso se condenado no processo que responde por corrupção.
REBELDES DO IÊMEN MIRAM TEL AVIV
Já o Irã segue sendo a grande incógnita da crise. Estimula os aliados a atacar Israel e os EUA, mas por ora não dá sinais de envolvimento direto na guerra. Quando fez isso, ao lançar o primeiro ataque de sua história contra o Estado judeu, viu a maioria dos 330 mísseis e drones serem abatidos, sem causar grandes danos.
Mas o recado posterior de Israel não foi sutil: um ataque inócuo com drones próximo de instalações do programa nuclear da teocracia, lembrando Teerã do que pretende destruir caso os aiatolás resolvam escalar também o conflito. A ameaça de ter a bomba atômica é um dos grandes ativos estratégicos do Irã.
Enquanto isso, seus prepostos se movimentam. Nesta terça, os houthis do Iêmen disseram ter lançado drones contra bases militares na região de Tel Aviv. O sistema de alerta de ataques soou em dezenas de pontos em torno da capital comercial de Israel, embora a informação inicial é de que a ameaça vinha do Líbano, mas ainda não há relato de danos.
Os rebeldes apoiados pelo Irã também conseguiram alvejar com um drone naval um navio cargueiro no mar Vermelho, mas segundo a autoridade marítima do Reino Unido sem danos.
Por fim, grupos pró-Irã no Iraque lançaram uma barragem de foguetes contra instalações americanas no aeroporto de Bagdá, sem deixar feridos.