A Assembleia Geral das Nações Unidas se reúne nesta quinta-feira para uma sessão especial de emergência sobre o conflito Israel-Palestina. Na abertura da reunião, o presidente da Assembleia Geral, Dennis Francis, destacou que a prioridade dos membros da ONU “deve ser proteger e salvar vidas de civis”.
Para ele, todas as partes neste conflito “devem respeitar o Direito Internacional Humanitário e criar imediatamente as condições necessárias para permitir a abertura do corredor humanitário para a Faixa de Gaza”.
Violência “deve acabar agora”
Ele também elogiou o trabalho do pessoal da ONU em Gaza e lembrou das famílias dos 35 funcionários da Agência de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, que foram mortos desde o início da crise.
Dennis Francis disse estar “profundamente perturbado” com os acontecimentos que se desenrolam em Israel e na Palestina. Ele afirmou que a violência “deve acabar agora” e apelou a um cessar-fogo humanitário imediato e incondicional, bem como a abertura de corredores de ajuda.
Ele expressou a sua condenação do ataque a Israel pelo Hamas em 7 de outubro, afirmando que “a brutalidade do ataque do Hamas é chocante e inaceitável”.
Ele também condenou o ataque indiscriminado a civis inocentes em Gaza e a destruição de infraestruturas críticas por Israel, “o bombardeamento incessante da Faixa de Gaza por Israel e as suas consequências são profundamente alarmantes”.
Procedimentos da Assembleia Geral
De acordo com a resolução “União para a Paz”, adotada pela Assembleia Geral em 1950, o órgão pode convocar uma “sessão especial de emergência” em até 24 horas, caso o Conselho de Segurança “deixe de exercer sua responsabilidade primária” pela manutenção da paz e segurança internacionais.
A 10ª Sessão Especial de Emergência foi convocada pela primeira vez em abril de 1997, a pedido do Catar. Ela seguiu uma série de reuniões do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral relacionadas à decisão de Israel de construir um grande projeto habitacional em uma área de Jerusalém Oriental.
A última vez que a sessão se reuniu foi em 13 de junho de 2018 para considerar um projeto de resolução intitulado “Proteção da população civil palestina”.
Ao final daquela sessão, a Assembleia decidiu adiá-la “temporariamente e autorizar o Presidente da Assembleia Geral, na sua sessão mais recente, a retomar a reunião mediante solicitação dos Estados-Membros”.
Pedido de reabertura da sessão
Ele lembrou que a sessão de emergência está sendo retomada a pedido dos Estados-Membros, e cartas assinadas por Jordânia, Mauritânia, Nicarágua e Rússia, juntamente com a Síria.
Membros que não tenham pagado suas contribuições financeiras não estão autorizados a votar em reuniões da Assembleia Geral como esta, mas Francis concordou, por consentimento geral, em permitir uma dispensa para aqueles em atraso, para que possam participar.
“Palestinos em Gaza estão sob bombas” – Palestina
O observador permanente do Estado da Palestina junto às Nações Unidas, Riyad Mansour, discursou durante a sessão especial de emergência sobre a situação no território palestino ocupado.
Ele afirmou que a reunião acontecia enquanto os palestinos em Gaza estavam debaixo de bombardeios. “Não há tempo para chorar”, adicionou, destacando o aumento do número de mortos.
Citando os recentes comentários de Israel ao Conselho de Segurança da ONU sobre o sofrimento do seu povo, Riyad Mansour, disse que os palestinos estão sofrendo, “pelo menos mil mortes por dia.”
Ele adicionou que a população sobrevive a décadas de ocupação, 16 anos de bloqueio e cinco guerras em Gaza.
“O único caminho a seguir é justiça para o povo palestino”, disse ele.
“Não é uma guerra com os palestinos” – Israel
O Embaixador Gilad Erdan, de Israel, também falou durante a sessão. Ele disse que o “massacre de 7 de outubro” e o que se seguiu “não têm nada a ver” com os palestinos, com o conflito árabe-israelense ou com a questão palestina.
Segundo ele, “Israel está em guerra com a organização terrorista jihadista genocida Hamas. Esta é a democracia cumpridora da lei de Israel contra os nazistas modernos.”
Ele continuou enfatizando que o Hamas não se preocupa com o povo palestino, com a paz ou com o diálogo. O seu único objetivo é “aniquilar Israel e exterminar todos os judeus do planeta”.
Erdan falou sobre os assassinatos brutais de civis israelenses inocentes e os ataques intencionais às equipes médicas que tentavam ajudar os feridos no ataque terrorista. Ele questionou a “hipocrisia” de que não haja uma única condenação da barbárie contra os israelenses.
Crise em curso
O Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários afirmou que, durante quatro dias consecutivos, de sábado a terça-feira, 62 caminhões atravessaram a passagem de Rafah, do Egito para Gaza.
Os veículos transportavam água, alimentos e medicamentos. A maior parte desta ajuda já chegou a hospitais, ambulâncias e pessoas deslocadas internamente.
No entanto, a média diária de caminhões autorizados a entrar em Gaza antes do aumento da violência era de cerca de 500.
O combustível, que é necessário para o funcionamento dos geradores de reserva, continua proibido e ainda não consegue entrar em Gaza.
Como resultado, a Unrwa quase esgotou as suas reservas de combustível e começou a reduzir significativamente as suas operações. Estima-se que 1,4 milhão de pessoas em Gaza estejam deslocadas internamente, com cerca de 629 mil abrigadas em 150 locais de emergência da agência da ONU.
Superlotação de abrigos
A sobrelotação é uma preocupação crescente, uma vez que o número médio de deslocados internos por abrigo atingiu agora 2,7 vezes a capacidade designada de cada abrigo.
O abastecimento de água através da rede nas zonas a sul de Wadi Gaza melhorou temporariamente. Unrwa e Unicef entregaram pequenas quantidades de combustível que tinham recuperado de suas reservas.
No entanto, o combustível disponível nestas instalações irá esgotar-se, muito em breve, e espera-se que o fornecimento de água canalizada cesse novamente.
A coordenadora humanitária para o Território Palestiniano Ocupado, Lynn Hastings, emitiu uma declaração dizendo que a condução de conflitos armados, em qualquer lugar, é regida pelo direito humanitário internacional.
Isto significa que os civis devem ser protegidos e ter o essencial para sobreviver, onde quer que estejam e quer decidam mudar-se ou ficar. Ela acrescentou que isso também significa que os reféns devem ser libertados imediata e incondicionalmente.