Um ataque de Israel contra uma base dos capacetes azuis das Nações Unidas no Líbano nesta sexta-feira (11) deixou dois soldados feridos, disse o Exército israelense em um comunicado.
Tel Aviv não deu mais detalhes, mas expressou “profunda preocupação” com o ocorrido, afirmou que a ação tinha como o alvo o Hezbollah e disse ter pedido que os capacetes azuis buscassem abrigo horas antes.
Foi a segunda vez em 48 horas que a principal base da Unifil (Força Interina das Nações Unidas no Líbano) foi alvo de um ataque israelense. Na quinta-feira (10), outros dois soldados ficaram feridos depois que um tanque disparou contra uma torre de observação da força de paz da ONU.
O secretário-geral António Guterres chamou os ataques de intoleráveis e disse que “não devem se repetir”. O português foi declarado persona non grata por Israel no início do mês por, segundo Tel Aviv, não condenar o Irã após os lançamentos de mísseis contra o Estado judeu no último dia 1º.
Além dos bombardeios contra a base da Unifil, os capacetes azuis relataram que Israel utiliza escavadeiras para derrubar barreiras da ONU ao longo da fronteira entre os dois países.
A França convocou o embaixador de Israel para dar explicações e assinou um comunicado conjunto com a Itália e a Espanha —juntos, os três países compõem as principais nacionalidades dos capacetes azuis em atuação no Líbano, uma força de 10 mil soldados. O texto diz que ataques não têm justificativa e constituem violações do direito internacional.
Na quinta, Roma já havia dito que as ações de Israel podem ser caracterizadas como crimes de guerra. “Não é um acidente, não é um erro”, declarou o ministro da Defesa do país, Guido Crosetto, repudiando a afirmação israelense de que os capacetes azuis foram instados a deixar o local. “A Itália não aceita ordens do governo israelense.”
O comandante-geral das Forças Armadas da Irlanda, que contribui com cerca de 130 soldados para a Unifil, afirmou em entrevista à imprensa local que o disparo contra a base da ONU foi proposital. “Atingir uma torre de observação, que é um alvo muito pequeno, com um tiro de tanque, é uma ação deliberada. De uma perspectiva militar, não se trata de um acidente”, disse o general Sean Clancy.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que entrou em contato com o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu e pediu que os ataques contra capacetes azuis fossem interrompidos. Os EUA são o principal aliado de Israel e responsáveis pelo envio da maior parte das armas e equipamentos militares utilizados por Tel Aviv.
O presidente francês, Emmanuel Macron, cujo país interrompeu a exportação de armas para Israel, pediu nessa sexta que outros países fizessem o mesmo em relação a todas as partes envolvidas na guerra no Oriente Médio. “Não se trata de pedir que Israel seja desarmado, mas sim de evitar que a região fique ainda mais desestabilizada”, disse Macron.
“Pedimos novamente um cessar-fogo, uma medida essencial tanto na Faixa de Gaza quanto no Líbano. Ele é necessário tanto para os reféns [em poder do Hamas] quanto para os civis vítimas da violência”, afirmou Macron. “Sabemos que o fim da exportação de armas usadas na guerra é o único jeito de interrompê-la.”
Israel tem repetido que seu objetivo na invasão do Líbano é garantir a volta dos residentes do norte de Israel, fora de casa há meses —a região é o principal alvo de foguetes do Hezbollah vindos do outro lado da fronteira, e o grupo armado pediu que israelenses se afastem de alvos militares localizados em meio a áreas residenciais no país.
Até aqui, a invasão de Tel Aviv contra o Líbano já forçou mais de 1,2 milhão de libaneses a deixar seus lares e matou cerca de 2.100 desde o 7 de outubro de 2023, de acordo com Beirute.
Ainda nesta sexta, cerca de 30 pessoas foram mortas por bombardeios de Israel contra o campo de refugiados de Jabalia, na Faixa de Gaza, de acordo com autoridades do governo local, controlado pelo Hamas.
Os bombardeios ocorrem em meio a uma operação israelense que cercou o campo de refugiados. Milhares de pessoas estão presas no local, de acordo como o grupo MSF (Médicos Sem Fronteiras). Tel Aviv afirma que a ação tem como objetivo evitar que o Hamas se reorganize em Gaza.
“Ninguém pode entrar nem sair, e quem tentar é baleado”, disse a coordenadora do MSF Sarah Vuylsteke. “Não sei o que fazer, podemos morrer a qualquer momento. As pessoas estão passando fome, e tenho medo de ficar, mas também tenho medo de ir”, afirmou um dos motoristas da organização.