Familiares de pessoas sequestradas pelo Hamas invadiram uma sessão do Comitê de Finanças do Parlamento de Israel nesta segunda-feira (22) para pressionar os legisladores a tentar trazer de volta os reféns que ainda estão na Faixa de Gaza.
Os seguranças do local, na maioria das vezes rápidos em expulsar manifestantes, inicialmente tentaram impedir a entrada do grupo de cerca de 20 pessoas, mas depois ficaram parados observando o protesto, enquanto uma legisladora cobria o rosto com as mãos.
“Vocês não vão ficar sentados aqui enquanto nossos filhos morrem”, gritavam os manifestantes no Knesset, o Parlamento israelense. Uma mulher segurava fotos de três membros de sua família que estão entre os sequestrados. “Ao menos um eu gostaria de ter de volta vivo, um em três!”, gritou ela.
Segundo o jornal Times of Israel, ao final eles foram removidos à força, incluindo um deles que precisou de primeiros socorros e foi retirado em uma cadeira de rodas.
“Você desmantelou um governo por causa de chametz, mas não para os reféns”, gritaram alguns dos manifestantes ao presidente do comitê, Moshe Gafni. Eles se referiam a uma lei aprovada em 2023 para permitir que hospitais proibissem a entrada de alimentos fermentados durante a Páscoa judaica, quando judeus evitam esse tipo de produto.
Os debates em relação à legislação foram um dos motivos que levaram à saída de um membro do governo, o que deu início a uma série de desgastes que resultaram no colapso da coalizão, meses depois.
Gafni, que também é líder de um partido ultraortodoxo judeu da coalizão do primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, levantou-se, interrompeu a sessão em andamento e tentou acalmar os manifestantes.
“Resgatar reféns é o preceito mais importante do judaísmo, especialmente neste caso, onde há urgência em preservar a vida”, disse ele. “Mas sair da coalizão não levaria a nada.”
A ação dos manifestantes mostra o crescente descontentamento na sociedade israelense com a postura do governo em relação aos raptados. Cerca de 130 pessoas permanecem sob poder do grupo terrorista desde o dia 7 de outubro, quando combatentes palestinos atacaram o sul de Israel.
Calcula-se que eram mais de 200 sequestrados quando a guerra começou, mas o número diminuiu no fim de novembro, quando um acordo intermediado por Estados Unidos, Qatar e Egito libertou mais de 100 reféns em troca de palestinos que estavam nas prisões israelenses.
Esforços para novas negociações, porém, parecem não estar surtindo efeito. No domingo (21), Bibi, como é chamado o premiê israelense, rejeitou as condições apresentadas pelo Hamas para encerrar a guerra e libertar reféns, que incluem a retirada completa das forças de Tel Aviv da Faixa de Gaza e a permanência do grupo terrorista no poder no território palestino.
Nesta segunda, o político disse às famílias que o Hamas não fez nenhuma oferta sólida que permitisse a libertação dos sequestrados. “Não há uma proposta real do Hamas. Isso não é verdade. Estou dizendo isso o mais claramente possível porque há muitas declarações incorretas que certamente são angustiantes para vocês”, disse Bibi ao grupo, segundo seu gabinete.
O destino dos reféns tem engajado o país. Seus familiares, porém, temem que o cansaço perante o conflito enfraqueça o movimento, e as manifestações têm se tornado mais agressivas. No fim de semana, eles começaram a acampar do lado de fora da casa de Netanyahu e do prédio do Knesset. “Não vamos sair até que os reféns voltem”, disse à agência de notícias Reuters Eli Stivi, cujo filho Idan está sendo mantido em Gaza.
Nas últimas semanas, o pedido por eleições para derrubar a coalizão de ultradireita de Bibi tem se somado às demandas por libertação dos reféns.
Os protestos contra uma controversa reforma judicial do governo, que abalaram a nação em 2023, cessaram após o ataque do Hamas, quando as divisões políticas foram deixadas de lado. Mas com a devastadora guerra em Gaza e pesquisas de opinião mostrando apoio insuficiente a Netanyahu, os apelos por mudanças de liderança estão se fortalecendo.
Na noite de sábado (20), milhares protestaram em Tel Aviv, Haifa e Jerusalém pedindo uma eleição.