Instituto Dom Phillips quer disseminar “encantamento” do jornalista pela Amazônia – EERBONUS
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Instituto Dom Phillips quer disseminar “encantamento” do jornalista pela Amazônia

Foi lançado neste dia 2 de junho, o Instituto Dom Phillips, em homenagem ao jornalista britânico que foi assassinado no Vale do Javari, na Amazônia brasileira, em junho de 2022, juntamente com o indigenista Bruno Pereira. Diversos órgãos da ONU pediram investigação do crime e combate a ações ilegais em terras indígenas.

A diretora-presidente do Instituto e esposa de Dom, Alessandra Sampaio, conversou recentemente com a ONU News, em Nova Iorque, sobre os objetivos da iniciativa. Ela ressaltou a intenção de levar para o mundo a curiosidade, a paixão e o encantamento que o jornalista sentia pela floresta. 

Esperança e inspiração

“É até emocionante dizer isso, porque o Dom, quando fazia essas viagens de campo para reportagens e também para a pesquisa do livro dele, ele voltava muito encantado com tudo o que ele vivenciava lá. Então ele tinha uma transformação que acontecia nele, que eu conseguia ver. O olho dele brilhava muito quando ele falava da Amazônia, quando ele falava dos povos que ele conhecia”.

Alessandra acredita que o recém-criado instituto pode contribuir com uma agenda positiva para que as pessoas “tenham esperança e se sintam inspiradas” a engajar em movimentos que tragam mudanças para a região. 

“Então, quando ele voltava, ele sempre falava comigo: “Alê, se as pessoas soubessem, conhecessem um pouco mais sobre a Amazônia, toda a beleza que a Amazônia tem, todas as potencialidades de toda a sabedoria dos povos. Eu acho que naturalmente as pessoas se engajariam na proteção desse bioma que é tão importante e tão único, não só para o Brasil como para o mundo inteiro”.

Dom Phillips, jornalista britânico que foi assassinado no Vale do Javari, na Amazônia brasileira, em junho de 2022

“Capacidade de escuta muito rara”

A diretora do Instituto Dom Phillips ressaltou que o marido tinha uma “capacidade de escuta muito rara”. Segundo ela, além de dialogar com os povos que vivem na Amazônia, o jornalista também conversava com aqueles envolvidos de alguma forma em atividades criminosas, como os garimpeiros.

“Uma vez ele me contou um caso que eu achei muito impactante para mim, que ele conversou com um garimpeiro que não tinha proteção nenhuma no trabalho, que estava arriscando a vida ali no trabalho, sem instrumentos, sem equipamentos. E ele falou: ‘Você sabe o que é isso que você está trabalhando? Você entende as consequências desse trabalho?’ E o homem falou para ele ‘Eu entendo. Só que eu tenho três crianças em casa para alimentar e eu não encontro um trabalho, eu não encontro uma outra oportunidade’. Então, assim, ao mesmo tempo que o Dom tinha essa escuta com quem protege, ele, tinha essa curiosidade do entendimento de que contexto é aquele tão complexo na Amazônia, que a gente precisa entender melhor, com certeza”. 

Transformando a tragédia em agenda positiva

Alessandra afirmou que a motivação para criar o Instituto vem de uma decisão de “não ficar presa no sentimento de frustração, de impotência e de tristeza” e seguir adiante com o legado de Dom Phillips. 

“Eu sinto que é uma questão muito importante a gente transformar essa tragédia, não ficar preso nessa tragédia e transformar para alguma coisa que seja positiva e propositiva para a proteção do bioma”. 

Cruzes colocadas em homenagem a Dom Phillips e Bruno Pereira no local onde foram emboscadas no Vale do Javari, na Amazônia brasileira.

Cruzes colocadas em homenagem a Dom Phillips e Bruno Pereira no local onde foram emboscadas no Vale do Javari, na Amazônia brasileira.

Ecoando as vozes e sabedoria da Amazônia

Ela compartilhou que o primeiro projeto do Instituto, vai ser uma plataforma digital educacional chamada “Amazônia, sua linda”. O título vem da legenda da última postagem de Dom nas redes sociais: um vídeo em que ele estava navegando num pequeno barco no Rio Amazonas, alguns dias antes do assassinato.

A viúva do jornalista disse que, segundo os advogados que atuam no caso, “as investigações seguem um caminho muito bom”. Para ela, isso traz esperança de que haja justiça e reforça a visibilidade para o Vale do Javari como “forma de proteção dos povos que habitam a região”.

De acordo com Alessandra, o propósito central do Instituto será desenvolver projetos com viés educacional para ecoar as vozes da Amazônia e a sabedoria dos povos e cuidadores, bem como as soluções que eles têm para apresentar. 

Nas palavras dela, “trazer o conteúdo sobre a Amazônia, mas da perspectiva de quem está lá e do protagonismo de quem vive na região”.

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