O mundo tem 18 focos de crise de insegurança alimentar extrema que poderão enfrentar uma “tempestade de fome”. Uma nova publicação de agências humanitárias destaca que é possível reverter o problema com ajuda urgente.
Em relatório conjunto publicado nesta quarta-feira, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, FAO, e o Programa Mundial de Alimentos, PMA, realçam que vários “pontos críticos de fome” estão na África.
Faixa de Gaza e Sudão
O estudo aponta, entretanto, que o receio é que a fome persista em áreas de conflito como a Faixa de Gaza e o Sudão aumentando o risco de novas emergências em nível regional.
O relatório de alerta prévio do PMA cobre 17 países e o grupo composto por Maláui, Moçambique, Zâmbia e Zimbábue que enfrenta seca. Já em situações como Mali, Territórios Palestinos, Sudão e Sudão do Sul, o nível de alerta é o mais alto e exige “atenção mais urgente”. A publicação passou a incluir o Haiti também em meio à escalada da violência e das ameaças à segurança alimentar.
Para a diretora executiva do PMA, Cindy McCain, uma vez declarada a fome já seria tarde demais, porque “muitas pessoas já terão morrido”.
Ela mencionou o caso da Somália, que em 2011 teve metade das 250 mil pessoas mortas antes que a fome fosse oficialmente declarada. Para a chefe do PMA, o mundo não deu ouvidos aos avisos feitos na época e as repercussões foram catastróficas. McCain acredita que a situação possa servir para ensinar a agir agora “para impedir que esses pontos críticos acendam uma tempestade de fome.”
Pessoas enfrentando fome e morte
No caso do Sudão do Sul, a atual crise é considerada “tão grave que o número de pessoas enfrentando fome e morte poderá quase dobrar entre abril e julho de 2024, em comparação com o mesmo período em 2023”.
A análise ressalta ainda que o mais novo país do mundo enfrenta uma falta de alimentos e a forte depreciação da moeda que fazem disparar os preços. A situação piora com a previsão de inundações e as ondas recorrentes de conflitos internos.
Com um possível aumento de sul-sudaneses retornados e refugiados do vizinho Sudão, estes provavelmente sofrerão com insegurança alimentar aguda que também poderá afetar às comunidades anfitriãs.
Outros pontos críticos identificados são Chade, República Democrática do Congo, Mianmar, Síria e Iêmen que levantam “grande preocupação” das agências das Nações Unidas.
Moçambique
O relatório alerta sobre muitas pessoas enfrentando insegurança alimentar aguda crítica nesses países, associada a fatores que deverão piorar ainda mais as condições e o risco de vida nos próximos meses.
Em outubro de 2023, a lista de focos críticos de fome passou a ter países como República Centro-Africana, Líbano, Moçambique, Mianmar, Nigéria, Serra Leoa e Zâmbia junto a casos como Burquina Faso, Etiópia, Malaui, Somália e Zimbábue.
Nos próximos meses, espera-se que a insegurança alimentar agudize ainda mais nesses contextos.
Fatores na origem da insegurança alimentar envolvem conflito e choques climáticos, como o caso do “ainda persistente” El Niño. Mesmo com sinais de estar chegando ao fim, o impacto do fenômeno “foi severo e generalizado”, como observado nas secas ocorridas no sul da África e as inundações no leste do continente.
Com a potencial ameaça do fenômeno climático La Niña, entre agosto e fevereiro de 2025, as agências da ONU esperam que a situação influencie de uma forma significativa a queda de chuvas.
Implicações importantes da mudança climática
Com essa situação, a mudança climática teria “implicações importantes” em vários países, incluindo com a ocorrência de inundações em casos como Sudão do Sul, Somália, Etiópia, Haiti, Chade, Mali e Nigéria, bem como no Sudão.
O relatório alerta para os riscos de extremos causados pelos dois fenômenos climáticos que têm potencial de afetar vidas e meios de subsistência.
As agências reiteram os apelos internacionais por ação imediata em grande escala para evitar o aumento da fome e mortes.