Quando o bombeiro voluntário Marlizar notou a fumaça se espalhando por um quarto de hectare de turfa durante uma patrulha de rotina em 2019, ele enviou seu colega para sua base no vilarejo de Teluk Maranti, na província de Riau, a sete quilômetros de distância, e enfrentou o fogo sozinho.
Enquanto o colega de Marlizar saía correndo para recuperar uma unidade de mangueira desajeitada, o homem de 42 anos tentava conter as chamas com um galho de árvore enquanto alertava a agência de gerenciamento de desastres. A experiência o ensinou a se proteger da inalação de fumaça. “A única coisa que eu tinha em mente era o que eu poderia fazer para impedir que o fogo se espalhasse”, diz ele.
Perdas na casa dos bilhões
Apesar dos valentes esforços de Marlizar, em uma hora as chamas já haviam tomado conta de cinco hectares. Nas outras duas horas que levaram para a unidade de mangueiras chegar – transportada por uma lancha rápida e depois erguida nos ombros de vários bombeiros – as turfeiras estavam em chamas até onde ele podia ver.
Em Teluk Meranti, nos dias e semanas seguintes, escolas, aeroportos e escritórios do governo foram obrigados a fechar, pois a fumaça engrossava o ar.
Os incêndios florestais de 2019 na Indonésia queimaram 3,1 milhões de hectares, uma área maior do que a Bélgica, cobriram seis outros países com uma névoa de fumaça, liberaram quase 604 milhões de toneladas de CO2 e fizeram com que cerca de 900 mil pessoas relatassem doenças respiratórias. O problema também causou perdas de US$ 5,2 bilhões na Indonésia, de acordo com o Banco Mundial, somando-se aos US$ 16 bilhões causados por incêndios ainda maiores em 2015.
De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Pnuma, o pior ainda está por vir. A agência da ONU espera um aumento de 14% nos incêndios florestais em todo o mundo até 2030 devido a uma mistura de mudanças climáticas e mudanças no uso da terra.
Coordenação comunitária
Mas na Indonésia, um projeto piloto de gerenciamento integrado de incêndios liderado pelo Pnuma, financiado pela Usaid, tem ajudado, desde 2021, a criar resistência a incêndios em três dos distritos mais propensos a incêndios do país.
Ele se inspira em uma abordagem “baseada em agrupamentos” para o gerenciamento de terras praticado na África do Sul – reunindo o conhecimento de brigadas comunitárias de combate a incêndios como a de Marlizar, o alcance de agências governamentais e os recursos de algumas das maiores empresas privadas da Indonésia.
O objetivo do projeto de aprimorar a coordenação entre a comunidade, o governo e os usuários privados da terra pode trazer lições para países propensos a incêndios em todo o mundo.
O representante do Pnuma, Johan Kief, explica que incêndios florestais causam enormes custos humanitários, ambientais e econômicos, especialmente quando ocorrem em terras de turfa ricas em carbono. Assim, ele avalia que é do interesse de todos evitar que eles ocorram.
Johan Kief adiciona que a Indonésia estabeleceu metas ambiciosas para interromper o desmatamento e reduzir as emissões de carbono. Por isso, reduzir o risco de incêndios é um componente essencial para alcançá-las.
Apagando as chamas
Depois que o Pnuma começou a formar grupos de prevenção de incêndios em 2021, não foram encontrados focos de incêndio no primeiro distrito piloto, Pulang Pisau, em Kalimantan Central, na estação seca de 2022.
No distrito de Pelalawan, em Riau, onde Teluk Maranti está localizado, o número de incêndios registrados diminuiu de 139 em 2021 para 88 em 2022. No distrito de Ogan Komering Ilir, em Sumatra do Sul, a terceira área piloto, o número de incêndios registrados diminuiu de 345 para 109.
Com base nos resultados alcançados nos três distritos-piloto iniciais, o projeto está se expandindo para outros seis distritos prioritários, com o objetivo de implementar a abordagem em todo o país.
“A eficácia das abordagens colaborativas para a prevenção de incêndios foi comprovada por meio desses grupos. Compartilhar a experiência desses três distritos não apenas na Indonésia, mas também em outros países ricos em turfa e propensos a incêndios na América Latina e no sul da África, é uma contribuição da Indonésia para o mundo”, disse chefe do Centro de Controle de Operações da agência de prevenção de desastres da Indonésia, Bambang Suryaputra.
A Indonésia tem a terceira maior área de cobertura florestal do mundo, atrás apenas do Brasil e da República Democrática do Congo. Mas, assim como em outros lugares de um arquipélago que tinha 84% de floresta em 1900, a estrada que leva da capital da província de Riau, Pekabaru, ao distrito-piloto do Pnuma, Palalawan, hoje conta a história de como a indústria e a agricultura levaram a floresta a retroceder.
Quilômetro após quilômetro, a selva foi substituída por blocos uniformes de palmeiras verdes brilhantes e atarracadas, acácias marrons finas e seringueiras brancas.