Primeiro, a boa notícia. Eleições municipais e estaduais realizadas na terça-feira (7) nos Estados Unidos trouxeram bons ventos para os democratas com “D” minúsculo, os americanos que não querem viver numa autocracia trumpista.
Agora, a má notícia. Joe Biden está cada vez mais impopular e fragilizado para uma eventual disputa com Donald Trump na eleição de 2024.
A votação do dia 7 mostrou que a neocriminalização do aborto pela Suprema Corte continua a ser um tiro no pé do Partido Republicano eleitoralmente. Sugere também que eleitores não mordem a isca da obsessão com a pauta de costumes, como os ataques aos direitos de pessoas transgênero.
No domingo (5), duas manchetes assustadoras sacudiram a confiança do público que não se informa só pelo tiozão do zap. A primeira, do jornal The Washington Post, expôs planos de Donald Trump e sua corja para uma segunda Presidência que transformariam os EUA na Hungria autoritária de Viktor Orbán.
Já tivemos uma prévia no primeiro mandato do empresário, que responde por dezenas de crimes. Antes de tentar um golpe de Estado no dia da invasão do Capitólio, Trump tentou como pôde governar como um coronel cacaueiro da Ilhéus dos anos 1930. Pôs a Receita Federal para auditar inimigos políticos e conspirou para o usar o Departamento de Justiça como sua milícia vingadora.
Os planos agora são mais detalhados. Os comparsas de Trump já mapearam como aparelhar áreas do governo federal para demolir a resistência institucional aos poderes de um presidente.
Numa outra manchete, uma pesquisa do jornal New York Times com o instituto Siena colocou Biden perdendo para Trump em cinco dos seis estados que devem decidir o resultado de 2024. O levantamento é um sarapatel de más notícias para o presidente octogenário, que está perdendo apoio entre jovens, negros e latinos.
Os números não revelam um aumento da popularidade de Trump. É importante destacar também que veredictos de culpado nos vários julgamentos que ele enfrenta poderiam afetar o voto.
O que a pesquisa deixa claro é que um segmento crescente do eleitorado que instalou Biden na Casa Branca o considera velho demais e incompetente na economia. “Na economia?”, perguntarão, do outro lado do Atlântico, líderes com inveja da recuperação econômica americana pós-pandemia.
O desemprego atravessa uma baixa histórica, a inflação, que disparou até o ano passado, perdeu fôlego, e o governo federal investe em infraestrutura e projetos ambientais com um vigor que fez o socialista Bernie Sanders pedir para a esquerda do Partido Democrata calar a boca e apoiar a reeleição de Biden.
Como um presidente que encontrou o país traumatizado por Trump e o 6 de Janeiro, um líder que defende direitos trabalhistas e das minorias, pode ser tão impopular? Como explicar que parte do eleitorado negro, crucial para a vitória de Biden em 2020, chegue a considerar o voto em Trump?
Um dos elementos deste inferno anunciado pode ser a desinformação, como confirma o número de eleitores que acreditam que Biden se beneficiou das falcatruas do filho Hunter. Pesa também uma mídia que cobre política como se ela fosse uma corrida de cavalos.
Muito pode mudar em um ano, e quem encara as pesquisas como ciência divina deveria bater um papo com os não presidentes Mitt Romney e Hillary Clinton.
A democracia americana dificilmente resistiria a uma segunda Presidência Trump. Resta saber se Biden reavaliará a reeleição, e se os eleitores compreendem o que está em jogo.
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