A escalada da violência em Gaza atingiu em cheio os hospitais e suas equipes, revelou a Organização Mundial da Saúde, OMS. Dados publicado nesta sexta-feira, apontam mais de 350 ataques a instalações de saúde desde o início do conflito.
Desde 7 de outubro, ataques contra hospitais e clínicas deixaram mais de 640 mortos e 800 feridos, destacou o porta-voz da OMS, Tarik Jasarevic. Segundo ele, 98 instalações de saúde, incluindo 27 hospitais, foram danificados de um total de 36 afetados.
Saúde sob ataque
Em sua última atualização sobre a crise, o Escritório da ONU para Assuntos Humanitários, Ocha, relatou “combates mais intensos” em Khan Younis, no sul de Gaza, na quinta-feira, envolvendo bombardeios e tiroteios pesados.
Citando a Sociedade do Crescente Vermelho Palestino, o Ocha disse que o hospital Nasser e o hospital Al Amal, supostamente sitiado por 17 dias, continuaram a ser particularmente afetados pela violência que “está expulsando milhares de pessoas”, que seguem para Rafah em busca de abrigo.
A atualização também transmitiu relatórios da autoridade de saúde de Gaza sobre contínuas “alegações de disparos de franco-atiradores nas proximidades do hospital Nasser” e alegações de que os militares israelenses haviam impedido o movimento de ambulâncias e o acesso ao hospital Nasser.
Escalada na Cisjordânia
Os dados mais recentes da OMS também destacaram o número crescente de violência contra o setor de saúde na Cisjordânia desde o início da guerra em outubro. Mais de 300 ataques foram registados, resultando em 10 mortes e 62 feridos.
O representante da agência de saúde da ONU observou que 44 instalações de saúde foram afetadas, incluindo 15 clínicas móveis e 24 ambulâncias.
O último balanço dos combates em Gaza é de pelo menos 27.840 mortes e mais de 67.300 feridos, de acordo com a autoridade de saúde local.
Até 8 de fevereiro, 225 soldados israelenses foram mortos e 1.314 ficaram feridos em Gaza desde o início da operação terrestre, de acordo com o exército israelense.
Temores renovados de fome
A ONU continua a destacar que o risco de fome em Gaza está aumentando “a cada dia”, principalmente no norte do enclave. Segundo o Ocha, milhares de pessoas foram “predominantemente privadas de assistência” apesar da crescente necessidade, com muitos relatos de moagem de ração animal para ser utilizada na alimentação humana.
Desde o início da crise, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, entregou 1.940 caminhões, 19% de todos os que foram usados na ajuda, transportando mais de 32.413 toneladas de alimentos. A última vez que a Agência da ONU para Assisência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, conseguiu distribuir alimentos no norte de Wadi Gaza foi em 23 de janeiro.
Crianças deslocadas
O Fundo da ONU para Infância, Unicef, faz um apelo às partes para que evitem uma escalada militar na província de Rafah. Segundo a agência, mais de 600 mil crianças e suas famílias foram deslocadas, muitas delas por mais de uma vez.
A diretora executiva do Unicef, Catherine Russell, afirma que o aumento dos combates em Rafah, já está sobrecarregada, marcará outra “reviravolta arrasadora” em uma guerra que já matou mais de 27 mil pessoas. A maioria foram mulheres e crianças.
Ela ainda alerta que milhares podem morrer em decorrência da violência ou da falta de serviços essenciais, além da interrupção da assistência humanitária. Catherine Russell afirma que um cessar-fogo humanitário imediato é essencial, bem como e libertação segura e imediata de todos os reféns feitos pelo Hamas, especialmente as crianças.
A chefe do Unicef avalia que um cessar-fogo humanitário salvará vidas e permitirá a expansão da resposta humanitária, além de oferecer proteção para as crianças “cujas vidas e futuros estão em jogo”.
Período mais letal em 56 anos
Um novo relatório da Comissão Econômica e Social das Nações Unidas para a Ásia Ocidental, Escwa, revela que a guerra em curso na Faixa de Gaza se tornou o período mais letal dos 56 anos de ocupação israelense, com mais de uma pessoa em cada 100 habitantes de Gaza morta em apenas 100 dias.
O texto destaca a necessidade urgente de um cessar-fogo imediato e um compromisso renovado com uma resolução de paz sustentável com base nas resoluções relevantes das Nações Unidas e no direito internacional.
A secretária executiva, Rola Dashti, enfatiza que as crianças sobreviventes enfrentarão impactos devastadores nas próximas décadas, incluindo deslocamento, insegurança alimentar e acesso limitado a serviços básicos.
Segundo o levantamento, a guerra resultou em 1,9 milhão de deslocados internos, destruição generalizada de habitações e infraestrutura essencial, levando a uma crise humanitária sem precedentes.
Na avaliação da comissão, as consequências da guerra aumentam o risco de violência futura, exigindo uma abordagem transformadora para atender às necessidades imediatas e abordar as causas fundamentais do conflito.