A morte do líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, em um ataque aéreo nesta sexta-feira (28), enfraqueceu dramaticamente um importante aliado do Irã na luta contra seu arqui-inimigo, Israel, o que pode levar o regime teocrático a se envolver diretamente nos combates.
Há muito Teerã busca que os grupos que apoia na região —incluindo o Hezbollah, no Líbano, o Hamas, na Faixa de Gaza, e forças na Síria, no Iêmen e no Iraque— sirvam como linha de frente em sua antiga disputa com Israel. Mas se seu ativo militar mais importante, o Hezbollah, foi dizimado, o país pode não ter escolha a não ser responder, dizem especialistas.
As decisões que o Irã vai tomar nos próximos dias terão um impacto significativo na próxima fase de um conflito crescente que agora ameaça engolfar a região.
“As escolhas do Irã realmente variam de feias a intragáveis”, diz Ali Vaez, diretor do Projeto Irã no International Crisis Group, uma organização de prevenção de conflitos.
Para o diretor do programa Oriente Médio e Norte da África no Conselho Europeu de Relações Exteriores, Julien Barnes-Dacey, o assassinato de Nasrallah aumenta significativamente o risco de uma conflagração perigosa no Oriente Médio.
“A questão é saber se o Hezbollah consegue lançar ataques de mísseis de grande alcance contra Israel neste momento”, diz Barnes-Dacey. Se não tiver, afirma, “isso pode agora empurrar o Irã a ir atrás de armas nucleares, porque vê isso como sua última forma eficaz de dissuasão”.
A morte de Nasrallah é uma perda significativa para o Irã. Não só ele era um líder carismático que inspirou gerações com seu sentimento anti-Israel, como também era muito próximo do líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. Ele era o principal elo do líder com o mundo de língua árabe.
Khamenei emitiu uma declaração de condolências após o Hezbollah confirmar a morte de seu líder, convocando todos os muçulmanos a se levantarem contra Israel com todas as suas forças e a apoiarem o Hezbollah e o Líbano. “Todas as forças da resistência estão apoiando o Hezbollah”, disse Khamenei. “O destino desta região será determinado pela resistência, com o Hezbollah no topo.”
Não é a primeira vez que Israel mata um líder do Hezbollah.
Em 1992, Tel Aviv assassinou o antecessor de Nasrallah, Abbas al-Musawi. “Israel assassinou vários líderes do Hamas nas últimas décadas e, em todas as ocasiões, esses grupos voltaram —mais fortes, mais radicais e representando uma ameaça ainda maior para Israel”, diz Barnes-Dacey.
A morte de Nasrallah foi o incidente mais grave após semanas de ataques. Eles começaram com a explosão de uma instalação de armas síria que fornecia armamento ao Hezbollah e seguiram com uma sofisticada operação de sabotagem em pagers e rádios da milícia que matou ou incapacitou dezenas de comandantes.
Ataques aéreos subsequentes eliminaram ainda mais comandantes. Mas, fora as condenações dos ataques em discursos e declarações, o Irã tem, em grande parte, permanecido à margem. O assassinato de Nasrallah pode ser o golpe que finalmente forçaria o país a reagir.
Ainda não está claro quanto dano os ataques israelenses causaram ao arsenal de armas do Hezbollah, mas caso a milícia tenha sido significativamente incapacitada, o Irã pode não ter muitas opções de retaliação.
O Irã certamente tem capacidades para atacar Israel diretamente, como provou em abril, quando lançou uma ofensiva com drones e mísseis. Mas Israel também poderia causar um revés militar e econômico muito severo ao Irã, e isso é algo que o regime não quer, diz Vaez.
“Eles sabem que qualquer ataque do Irã permitiria que Israel expandisse ainda mais a guerra e arrastasse Teerã para uma confrontação militar direta com os Estados Unidos“, acrescentou. Se o Hezbollah ainda tiver capacidades bélicas, acrescenta, essa é provavelmente a resposta mais provável. “O Irã quer ficar fora disso o máximo que puder.”
O Irã é bom em jogar a longo prazo, afirma Paul Salem, vice-presidente de engajamento internacional no Middle East Institute, em Washington. Em vez de reagir como um obstáculo imediato contra Israel, o Irã poderia, em vez disso, recuar, ajudar silenciosamente o Hezbollah a reparar os danos em seus estoques de armas e sua liderança, reconstruindo o que restou.
Ao contrário do Hamas, o Hezbollah não está cercado por Israel. A milícia tem acesso a suprimentos de armas de aliados iranianos na Síria e no Iraque por meio da fronteira libanesa, que é relativamente porosa.
“O Hezbollah, com o tempo, encontrará novos líderes”, disse Salem. “Esses líderes podem ser treinados e armados e receber um novo conjunto de táticas e estratégias. Eles sofreram uma perda tremenda. Mas não é o fim do Hezbollah.”