Na manhã seguinte ao ataque israelense que matou o comandante de sua força de foguetes e mísseis em Beirute, o grupo fundamentalista libanês Hezbollah fez um até aqui inédito ataque com um modelo balístico contra o centro econômico do Estado judeu, Tel Aviv.
O alvo, segundo os libaneses, era o quartel-general do Mossad, o serviço secreto israelense. A entidade é central no planejamento das mortes de líderes do Hezbollah nos últimos meses.
Na véspera, havia sido morto Ibrahim Qabisi, ampliando o estrago à ala militar do grupo, que segundo Israel perdeu 17 de seus 19 integrantes.
O míssil foi abatido, segundo as Forças de Defesa de Israel, sem consequências relatadas em solo. Seu ponto de lançamento foi destruído. O Hezbollah não havia lançado um míssil balístico contra Tel Aviv nesta guerra até aqui.
Foi também a primeira vez em cerca de uma semana que as sirenes soaram na cidade, que devido ao status contestado pelos palestinos de Jerusalém é tratada pela maioria dos países como a capital na prática do país. Em 15 de setembro, a ameaça havia sido de um míssil lançado pelos houthis do Iêmen.
Os alertas disparam às 6h30 (0h30 em Brasília), acordando muitos moradores nas 48 estações acionadas de Tel Aviv até Netania, balneário ao norte da cidade. Durante a madrugada, houve diversos sobrevoos de aviões de caça israelenses em Jerusalém.
Eles rumavam ao sul libanês, onde houve uma nova onda de ataques a pontos de lançamento e depósitos de armas do Hezbollah. Ainda não há um balanço de operação. Ainda no começo da manhã, um drone vindo da Síria foi abatido em Eliad (colinas de Golã).
Já a ação do Hezbollah foi simbólica. Apenas seus mais preciosos mísseis, de um arsenal estimado até a fase atual da guerra em 160 mil projéteis do tipo e foguetes, têm alcance para chegar a Tel Aviv, que fica a 580 km da fronteira libanesa.
Análise do Instituto para Estudos de Segurança Nacional aponta que, do arsenal, 4.500 modelos têm tal alcance, ante 10,5 mil que podem chegar à região de Hadera. Já 67,5 mil mísseis e foguetes podem alveja a região de Haifa, mais ao norte, e os restantes, toda a área próxima do sul do Líbano. Isso fora drones diversos.
As ações não evoluíam para uma guerra aberta, como a travada pela última vez em 2006, embora tenha havido momentos de maior tensão. O mesmo ocorreu com o país que banca o Hezbollah e o Hamas, o Irã.
Mas Tel Aviv resolveu agora que os 60 mil moradores que deixaram a fronteira norte têm seu retorno às casas com uma prioridade da guerra. Críticos do governo de Binyamin Netanyahu contestam isso, dizendo que o premiê busca o prolongamento das hostilidades para se manter no poder e disfarçar as dificuldades em Gaza.
A faixa da fronteira a Haifa tem sido atacada de forma constante. Na terça, foram 300 foguetes de curto alcance disparados, cujos destroços atingiram casas e carros, ferindo moradores. Ainda assim, militares israelenses afirmam que nos últimos dias degradaram boa parte da capacidade de lançamento maciço de mísseis e foguetes dos rivais.
A guerra iniciada pelo ataque do grupo terrorista Hamas há quase um ano está em uma nova fase. Desde a semana passada, Israel decidiu atacar de forma mais decisiva o Hezbollah, que desde o início do conflito havia aumentado o atrito na área de fronteira para apoiar os aliados da Faixa de Gaza.
Por outro lado, pesquisas mostram que há apoio popular a uma solução para a crise no norte. Seja como for, como a Folha mostrou, Israel já prepara uma ofensiva terrestre caso o Hezbollah não recue para a faixa delimitada pela ONU em um acordo de 2000, criando um tampão entre o grupo e Israel no sul do Líbano.
Isso pode ou não acontecer, mas enquanto isso os ataques aéreos israelenses seguem intensos. A segunda (23) viu a maior ação em décadas contra alvos no vizinho, com mais de 500 mortos.