Os grupos palestinos Hamas e Fatah, que regem a Faixa de Gaza e a Cisjordânia, respectivamente, assinaram nesta terça-feira (23) um acordo no qual concordam em encerrar suas divisões e formar um governo de unidade nacional provisório após o fim da guerra iniciada em outubro.
O anúncio foi feito pelo Ministério das Relações Exteriores da China, onde o diálogo se desenrolava desde domingo (21). O primeiro encontro aconteceu em abril, e a segunda rodada de conversas, originalmente planejada para o mês passado, foi adiada após rusgas entre os dois grupos.
A negociação, que envolve os rivais mais notórios e outros 12 grupos, tem o potencial de encerrar uma luta pelo poder que se arrasta há 17 anos —a rivalidade entre ambos os movimentos remonta a 2007, quando o Hamas expulsou o Fatah da Faixa de Gaza após enfrentamentos entre combatentes dos dois grupos deixarem dezenas de mortos e feridos no território palestino.
Mesmo após a expulsão, o Fatah continuou controlando politicamente a Autoridade Palestina, espécie de governo de transição da Palestina estabelecido em acordo com a comunidade internacional e liderado por Mahmoud Abbas.
Esforços anteriores do Egito e de outros países árabes para reconciliar os grupos, porém, falharam em encerrar a disputa que enfraquece as aspirações políticas palestinas. Portanto, resta saber se o acordo, que não estabelece um prazo para a formação do novo governo, sobreviverá às realidades no terreno.
O encontro foi celebrado em meio a tentativas de mediadores internacionais de alcançar um acordo de cessar-fogo para Gaza. Um dos principais pontos de discórdia é “o dia seguinte” ao conflito —ou seja, como o território governado pelo Hamas será administrado uma vez que a guerra termine.
Enquanto o grupo terrorista não abre mão de se manter no poder em Gaza, o primeiro-ministro de Israel e líder do governo mais à direita da história do país, Binyamin Netanyahu, afirma repetidamente que a guerra vai continuar até que o Hamas seja aniquilado.
“Hoje assinamos um acordo de unidade nacional e afirmamos que o caminho para completar esse percurso é a unidade nacional. Estamos comprometidos com essa unidade nacional e fazemos um apelo para alcançá-la”, afirmou o enviado do Hamas à China, Mousa Abu Marzook.
Hussam Badran, funcionário de alto escalão do grupo, disse que o governo gerenciaria assuntos dos palestinos em Gaza e na Cisjordânia, supervisionaria a reconstrução do território em guerra e prepararia condições para eleições. “Isso cria uma barreira formidável contra todas as intervenções regionais e internacionais que buscam impor realidades contra os interesses de nosso povo”, disse ele.
Já Mahmoud Aloul, do Fatah, agradeceu Pequim por seu apoio à causa palestina. “Vocês têm o carinho e a amizade de todo o povo palestino”, disse Aloul.
Israel também se pronunciou rapidamente.
“Hamas e Fatah assinaram um acordo na China com vistas a um controle conjunto de Gaza depois da guerra. Em vez de rejeitar o terrorismo, Mahmoud Abbas abraça os assassinos e estupradores do Hamas e mostra sua verdadeira face”, escreve no X o chanceler israelense, Israel Katz. “Isso não ocorrerá, porque o poder do Hamas será esmagado, e Abbas observará Gaza de longe.”
Do ponto de vista da China, a negociação foi mais uma vitória diplomática do país na política do Oriente Médio, que agora se une ao acordo de paz entre Arábia Saudita e Irã, inimigos históricos da região, assinado no ano passado e também mediado por Pequim.
Nos últimos meses, autoridades chinesas intensificaram a defesa da Palestina em fóruns internacionais, e passaram a pedir uma conferência de paz entre palestinos e israelenses.
“A China espera sinceramente que as facções palestinas alcancem a independência o mais cedo possível com base na reconciliação interna, e está disposta a fortalecer a comunicação e coordenação com as partes relevantes para trabalhar juntas para implementar a Declaração de Pequim alcançada hoje”, disse o chanceler chinês, Wang Yi, durante a cerimônia de encerramento.