O Hamas divulgou neste sábado (11) um vídeo mostrando um dos israelenses que sequestrou durante os ataques de 7 de outubro momentos antes de afirmar que ele morreu cerca de um mês atrás. A morte foi atribuída a um bombardeio de Israel à Faixa de Gaza.
A publicação do vídeo ocorre em meio ao avanço das forças do Estado judeu sobre Rafah, cidade no extremo sul de Gaza que faz fronteira com o Egito e é o último refúgio de muitos palestinos deslocados devido ao conflito.
O anúncio da morte do refém foi publicado pelo braço armado do Hamas, as Brigadas al-Qassam, no Telegram. Cerca de uma hora antes, o grupo havia divulgado pelo mesmo meio um vídeo sem data de dez segundos em que o sequestrado em questão —Nadav Popplewell, 51—, com o olho roxo e um aspecto abatido, dizia o próprio nome.
O vídeo vinha acompanhado das hashtags “o tempo está acabando” e “seu governo mente” em árabe e em hebraico.
Popplewell, que tinha dupla cidadania israelense e britânica, havia sido sequestrado no kibutz Nirim junto com a mãe, Channa Peri —no total, cerca de 250 pessoas foram feitas reféns durante a incursão que motivou a ofensiva de Tel Aviv sobre Gaza.
Peri foi libertada na troca de reféns durante a trégua de novembro. Já o irmão de Popplewell, Roy, foi morto no mega-ataque.
Segundo os terroristas, o refém estava detido com uma mulher quando o local em que estavam foi alvo de um míssil israelense.
“Ele morreu porque não recebeu cuidados médicos intensivos em instalações de saúde devido à destruição de hospitais em Gaza pelo inimigo”, diz o comunicado divulgado pelo Hamas.
Tel Aviv não comentou as publicações. Em ocasiões anteriores, porém, classificou vídeos de reféns divulgados pelo Hamas de “terror psicológico” e negou que outros sequestrados tenham sido mortos por bombardeios israelenses.
Horas após a divulgação do vídeo, milhares de israelenses voltaram às ruas para exigir que o governo do primeiro-ministro Binyamin Netanyahu fizesse mais para garantir a libertação dos sequestrados. Acredita-se que 128 deles continuem nas mãos do Hamas, sendo que cerca de 30 estariam mortos.
O governo argumenta que não pode aceitar os termos que o Hamas exige para devolver os reféns, que incluiriam a retirada das tropas israelenses de Gaza.
Defende, ao contrário, que os terroristas devem primeiramente deixar os sequestrados voltarem para casa para que então se firme um cessar-fogo —mesma lógica de uma fala do presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, neste sábado. “Haveria um cessar-fogo amanhã se o Hamas libertasse os reféns”, disse o democrata em um evento nos arredores de Seattle.
A declaração indica uma possível tentativa do americano de apaziguar as relações entre Washington e Tel Aviv depois de uma série desentendimentos públicos sobre o plano de Israel de invadir Rafah por terra.
Na semana passada, o presidente americano chegou a bloquear um carregamento de 3.500 bombas para Israel para evitar que armas americanas fossem usadas em um possível ataque à cidade.
Sua administração ainda admitiu que o uso de armas fornecidas pelos EUA pode ter levado a violações do direito humanitário internacional durante a operação em Gaza, na mais forte crítica de Washington a Tel Aviv até agora.
Rafah hoje concentra quase 1,5 milhão dos 2,3 milhões de habitantes registrados em Gaza antes do conflito. Parte da comunidade internacional considera que uma incursão por terra na área representaria uma catástrofe humanitária sem igual —segundo autoridades ligadas ao Hamas, quase 35 mil pessoas já morreram no território palestino desde o início da guerra.
Ainda neste sábado, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, criticou a iminência da invasão. Segundo ele, “as ordens de retirada de civis” no local “para áreas inseguras são inaceitáveis”.
“Pedimos ao governo israelense que respeite o direito internacional humanitário e o instamos a não empreender nenhuma operação terrestre em Rafah”, completou.
Ao que tudo indica, porém, Tel Aviv deve seguir em frente com seus planos. Neste sábado, seu Exército determinou que palestinos em mais bairros de Rafah dirijam-se ao que descreve como uma “área humanitária expandida” em Al-Mawasi.
O Estado judeu afirma que, até agora, cerca de 300 mil moradores do território se deslocaram para Al-Mawasi. Na sexta-feira, altos funcionários da ONU tinham dito que 30 mil pessoas fogem da cidade por dia e que, no total, mais de 110 mil já teriam deixado o local em busca de refúgio em outras áreas.
Enquanto isso, em uma postagem na rede social X, um porta-voz militar pediu aos moradores e deslocados em Jabalia, no norte, e em outras 11 localidades de Gaza que se dirijam imediatamente a abrigos a oeste da Cidade de Gaza.
Falando à imprensa, o contra-almirante israelense Daniel Hagari afirmou que as ações buscam impedir o restabelecimento do Hamas na área.
O militar disse também que, no distrito de Zeitoun, na Cidade de Gaza, cerca de 30 combatentes palestinos foram mortos.
A agência de notícias palestina Wafa havia noticiado 24 óbitos depois que jatos israelenses atacaram vários locais na área central de Gaza.