A família Al-Tabatibi havia celebrado a primeira sexta-feira do Ramadã e preparava uma refeição matinal antes do jejum deste sábado (16) quando um bombardeio na Faixa de Gaza matou 36 de seus membros.
“Esta é minha mãe, meu pai, minha tia e meus irmãos”, diz Mohamad à agência de notícias AFP em frente aos corpos enfileirados no hospital Al-Aqsa, em Deir al-Balah, região central de Gaza. “Bombardearam a casa enquanto estávamos dentro. Minha mãe e minha tia estavam preparando o suhoor”, afirma ele, em referência à refeição antes do amanhecer e do início do jejum.
Após fugir da porção norte do território palestino no início da guerra, Mohamad e sua família haviam se instalado no campo de refugiados de Nuseirat. “Não sei por que nos bombardearam”, relata o jovem de 19 anos, em estado de choque e ele mesmo ferido na mão esquerda.
Segundo o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, sob poder do Hamas desde 2007, 36 membros dessa família morreram em um ataque aéreo do Exército de Israel em uma noite marcada por 60 bombardeios. Mohamad confirma o balanço à AFP.
Tel Aviv alega ter atacado “vários terroristas entrincheirados” em Nuseirat, mas diz que o bombardeio que vitimou a família Al-Tabatibi faz parte de “outro incidente”, sobre o qual não confirmou a origem À AFP. O Crescente Vermelho (como a Cruz Vermelha é chamada em países islâmicos), por sua vez, mencionou “ataques aéreos a várias casas” dentro do campo durante a noite.
Aquele que atingiu a casa dos Al-Tabatibi reduziu a construção a escombros sob os quais ainda pode haver mortos. Yusef, outro membro da família, busca os desaparecidos no que sobrou da casa. “Não conseguimos encontrar alguns dos mortos. Não temos equipamentos, escavadeiras e máquinas, precisamos tentar tirá-los com as nossas mãos. Trouxemos pás e martelos, mas em vão”, afirma.
No hospital Al-Aqsa, dezenas de pessoas se reuniram ao redor dos corpos já resgatados, que incluíam os de duas crianças. Eles foram colocados em um caminhão normalmente dedicado ao transporte de ajuda humanitária e levados a um cemitério próximo para serem enterrados em uma vala comum, segundo um jornalista da AFP.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada por um ataque do Hamas no dia 7 de outubro, quando o grupo terrorista invadiu o sul de Israel e matou pelo menos 1.160 pessoas, a maioria civis, de acordo com um levantamento da AFP com base em dados oficiais israelenses. Nesse mesmo dia, cerca de 250 pessoas foram sequestradas e 130 ainda podem estar sequestradas em Gaza.
Segundo o Ministério da Saúde do território palestino, a guerra em retaliação ao ataque causou, até agora, mais de 31.500 mortes.
Na manhã deste sábado, um ataque em Rafah, último refúgio da população local e onde se teme uma ofensiva israelense, matou Isa Duhair, almuadem de uma mesquita —cargo daquele que anuncia o horário das cinco orações diárias dos muçulmanos. Ele acabava de fazer o chamado e comer com sua família quando sua casa foi bombardeada, matando seus dois filhos e um parente de 41 anos que vivia nas proximidades, segundo Mahmud Duhair.
A iminência de um ataque de Israel a Rafah preocupa a comunidade internacional e as agências de ajuda humanitária. Mais da metade dos 2,3 milhões de habitantes da Faixa de Gaza se espremem nessa cidade na fronteira com o Egito que, antes da guerra, era lar de cerca de 280 mil palestinos.
Na última sexta-feira (15), o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, aprovou um plano para invadir Rafah e afirmou que enviaria uma delegação ao Qatar para negociar uma trégua no conflito. O grupo será liderado pelo chefe da agência de inteligência do país, David Barnea, disse uma fonte familiarizada com as negociações.
A nova tentativa de acordo acontece após o Hamas apresentar uma nova proposta de cessar-fogo condicionada à troca de reféns e prisioneiros. Nos últimos dias, as partes falharam ao buscar uma trégua antes do mês sagrado muçulmano do Ramadã, que começou no domingo passado (10).
A UNRWA (Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina) afirmou neste sábado que a desnutrição aguda está aumentando rapidamente no norte do enclave. Segundo a principal agência de ajuda da ONU que opera em Gaza, uma em cada três crianças com menos de 2 anos no norte de Gaza está com desnutrição aguda.