Um dia após o Conselho de Segurança da ONU aprovar uma proposta apresentada pelos Estados Unidos para estabelecer um cessar-fogo na guerra entre Israel e Hamas, líderes da facção terrorista disseram nesta terça (11) que o grupo está disposto a aceitar o plano e pronto para negociar os detalhes.
Em viagem pelo Oriente Médio, o secretário de Estado americano, Antony Blinken, afirmou que a declaração representa um “sinal de esperança” para apaziguar o conflito que se arrasta há oito meses.
Mediadores do Qatar e do Egito confirmaram o recebimento de uma sinalização positiva do grupo terrorista, mas um dos negociadores disse à agência de notícias AFP que a facção exigiu emendas ao plano de Washington, o que colocaria em dúvida a viabilidade de sua implementação.
À agência Reuters um integrante do Hamas disse, sob a condição de anonimato, que o grupo reiterou as exigências pelo fim dos ataques de Israel na Faixa de Gaza, a retirada das forças israelenses do território palestino e a realização de novas rodadas de negociações para troca de prisioneiros.
Em tese, algumas dessas demandas contrariam aquele que tem sido o mantra do premiê israelense, Binyamin Netanyahu, desde o início do conflito —de que a guerra só terminaria com a destruição total do Hamas— e poderiam dificultar o acordo.
Antes da resposta do Hamas, um funcionário do governo israelense havia afirmado que a proposta apresentada pelos EUA permite a Israel alcançar seus objetivos na guerra, incluindo a destruição do grupo terrorista e a libertação de reféns, segundo o jornal The New York Times. Ele não disse, porém, se Tel Aviv vai aceitar o acordo, e Netanyahu não havia se manifestado sobre o plano.
As discussões sobre os planos pós-guerra para Gaza ainda continuarão nos próximos dias, disse Blinken, que voltou a se reunir com autoridades israelenses nesta terça, em Tel Aviv. O chefe da diplomacia americana desembarcou em Israel na segunda, em sua oitava visita ao Oriente Médio desde o início do conflito, para pressionar as partes envolvidas pelo estabelecerem um cessar-fogo
Já o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, John Kirby, disse que as autoridades americanas estavam avaliando as emendas propostas pelo Hamas. Ele destacou o envio de uma resposta formal do grupo terrorista, descrita por ele como útil para a construção do cessar-fogo.
A proposta adotada pela ONU para cessar-fogo foi apresentada no final de maio pelos EUA como uma iniciativa de Israel e propõe uma trégua de três fases.
Na primeira fase, haveria um cessar-fogo completo por seis semanas, a retirada de todas as tropas das áreas habitadas da Faixa de Gaza e a libertação de reféns sequestrados pelo Hamas em troca de centenas de prisioneiros palestinos. Ao mesmo tempo, passaria a haver um fluxo de 600 caminhões de ajuda humanitária entrando em Gaza por dia, de acordo com o presidente americano, Joe Biden.
Na segunda fase, Hamas e Israel negociariam um fim para a guerra, e o cessar-fogo continuaria em vigor durante essas negociações. A terceira fase consistiria de um plano de reconstrução do território palestino.
Moradores palestinos disseram que as forças israelenses que operam na cidade de Rafah, no sul do país, explodiram um conjunto de casas nesta terça, e que um ataque aéreo israelense em uma das ruas principais da Cidade de Gaza matou quatro pessoas.
Os EUA são os principais aliados e o maior fornecedor de armas a Israel, mas, assim como grande parte da comunidade internacional, tornaram-se críticos em relação ao enorme número de mortes de civis em Gaza e à destruição no território causada pelas ofensivas israelense. Desde o começo da guerra, mais de 37 mil palestinos foram mortos nos ataques, segundo o Ministério da Saúde local, controlado pelo Hamas.
Na Faixa de Gaza, na terça-feira, os palestinos reagiram com cautela à votação do Conselho de Segurança. “Só vamos acreditar quando vermos [o cessar-fogo]”, disse Shaban Abdel-Raouf, 47, forçada a se deslocar no conflito e que atualmente está abrigada na cidade central de Deir Al-Balah.