Possivelmente o segundo melhor jogador da história do futebol brasileiro (atrás do Rei Pelé), Mané Garrincha, se estivesse vivo, completaria 90 anos neste sábado (28).
Na véspera, pude assistir a um documentário colocado na “Minha Lista” faz tempo e que acabou se perpetuando na fila: “Garrincha: Alegria do Povo”, de 1962, dirigido por Joaquim Pedro de Andrade, disponível no Globoplay e no YouTube.
Na cerca de uma hora de filme, que tem a narração de Heron Domingues (o locutor do famoso, à época, noticiário Repórter Esso), esperava ver relatada a trajetória em detalhes do ponta direita, do seu nascimento aos dias de glória com o bicampeonato mundial (Suécia-1958 e Chile-1962).
No geral, decepcionei-me.
Do personagem de pernas tortas, nada da infância em Pau Grande, distrito de Magé (RJ), nada do início no futebol, nada do seu dia a dia.
O longa em preto e branco concentra-se em imagens –vídeos mesclados com fotos– de momentos de jogos e de um treino do Botafogo, com alguns poucos dribles de Garrincha, e uma retrospectiva simplória da participação do atacante nas Copas do Mundo de 58 e 62.
Do exibido, eu só não sabia, e foi válido ter obtido esse conhecimento, já que da boca do próprio Garrincha, que ele desgostava da movimentação acima do desejado em sua terra natal (considerava “cansativo”), mesmo entendendo que isso era natural devido à fama que ele angariara.
E também que tinha ojeriza aos treinamentos. Com 29 anos, Garrincha já passava, de acordo com o narrador, por problemas de peso –apesar de as imagens o mostrarem em perfeita forma–, que o faziam “o alvo preferido” dos preparadores físicos.
Momento lúdico, uma cena de um treino mostra que era praxe o exercício de “pular carniça”, brincadeira das antigas. Será que alguma criança sabe hoje o que é essa diversão?
Outro raro momento de valia no filme é ver Garrincha, de folga em sua moradia, com as filhas (teve sete em seu primeiro casamento), todos à vontade dançando rock da década de 1950, com passos de twist.
Como o filme foi feito antes dos anos da decadência nos campos e do descortinamento do alcoolismo do craque fora deles, vividos com a cantora Elza Soares (que se tornou sua companheira a partir de 1963), nada se viu de uma fase relevante, apesar de dolorida e melancólica, da carreira dele.
Garrincha tinha problemas com álcool fazia muito tempo, porém a obra não menciona nada a respeito disso, seja por falta de conhecimento, seja pela opção de não o fazer.
Com o copo na mão, com os amigos, em um bar depois de uma pelada em Pau Grande, Garrincha aparece bebendo somente refrigerante, o mais famoso deles.
Ademais, “Garrincha: Alegria do Povo”, traz pouco futebol e muita movimentação de torcedores, fora e dentro do Maracanã, a classe operária fluminense buscando distração no ludopédio em meio à correria e à labuta do dia a dia.
Há mais seriedade em seus semblantes do que felicidade, destoando do título do filme.
E isso não muda muito com Garrincha, que esbanja poucos sorrisos, não largos, ao longo dos 58 minutos da produção de Luiz Carlos Barreto e Armando Nogueira.
A alegria, retratada em curtíssimo período (uns dois minutos), surge nas arquibancadas e nas gerais de um Maraca inicialmente apresentado sob chuva, quando os fãs do time da estrela solitária festejam um título –o filme não menciona qual.
Manoel Francisco dos Santos, nascido em 28 de outubro de 1933, ganhou o apelido Garrincha quando criança, dado por uma das irmãs, devido ao seu gosto por caçar passarinhos, um deles o Troglodytes musculus, conhecido como garrincha (ou corruíra, carruíra, cutipuruí, cambaxirra, carriça e garriça).
Encantou com sua ginga e com seus dribles nos 13 anos que defendeu o Botafogo (1953 a 1965) e no período do auge na seleção brasileira (1958 a 1962). Com ele e Pelé juntos, o Brasil jamais perdeu (36 vitórias e 4 empates).
Mané Garrincha, apelidado “O Anjo das Pernas Tortas” (título de poesia de Vinicius de Moraes), morreu aos 49 anos, no dia 20 de janeiro de 1983, em decorrência de cirrose hepática.
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