O secretário-geral da ONU, António Guterres, participou nesta quinta-feira do Encontro de Cúpula do Brics, o grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, África do Sul e outras nações. Em Kazan, cidade russa, o líder das Nações Unidas lembrou que o bloco concentra quase metade da população mundial, mas que nenhum grupo, nem país pode operar em isolamento.
Em seu discurso, no dia em que a ONU marca 79 anos desde sua criação, Guterres ressaltou a importância de se reforçar o multilateralismo.
“Apenas uma família de nações pode resolver problemas globais”
O secretário-geral disse que é preciso uma comunidade de nações trabalhando como uma família global para enfrentar os desafios do mundo.
Este ano, o tema da Cimeira dos Brics trata do compromisso e apoio à resolução dos problemas internacionais como o número de conflitos no mundo, a devastação provocada pela mudança climática, aumento de desigualdades e a persistência da pobreza e da fome.
Guterres citou ainda a crise com a agenda 2030 com menos de 20% dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável a caminho de serem alcançados.
Falta de regras de proteção na inteligência artificial
Ele falou de ameaças como a crise da dívida pública que afeta os planos de muitos países vulneráveis, do aumento do abismo digital e da falta de regras de proteção da inteligência artificial além de outros desafios.
Guterres afirmou que o caminho adiante precisa priorizar quatro áreas: finanças, clima, tecnologia e paz.
Segundo o chefe da ONU, o Conselho de Segurança, por exemplo, precisa de maior representação geográfica e diversidade. As instituições financeiras, conhecidas como Bretton Woods, também necessitam de reformas.
Ele citou o Pacto para o Futuro, adotado em setembro pela Assembleia Geral da ONU, como o mapa de navegação para fortalecer o multilateralismo, avançar a paz, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável.
Anacronismo e ineficiência
Para Guterres, o Pacto pode ajudar a acelerar as reformas necessárias onde existe anacronismo e ineficiência.
Em 2025, a ONU realizará a Conferência sobre Financiamento para o Desenvolvimento e o Encontro de Cúpula sobre Desenvolvimento Social. Neste contexto, o secretário-geral afirma que é preciso reconhecer a importância da Cooperação Sul-Sul, que reúne países do Sul Global em apoios mútuos para o desenvolvimento.
Ao falar do clima, Guterres lembrou que cada país tem um compromisso drástico de reduzir suas emissões de dióxido de carbono para manter o aumento da temperatura global em 1.5º Celsius.
Para António Guterres, realização da Conferência da ONU sobre Mudança Climática, COP29, marcada para novembro no Azerbaijão é uma oportunidade de fornecer resultados ambiciosos.
Cessar-fogo imediato em Gaza e no Líbano
O líder das Nações Unidas afirmou que o Pacto Global Digital é o primeiro tratado universal sobre inteligência artificial e que dá a cada país um assento à mesa de debates sobre o tema. Ao terminar falando de paz, Guterres apelou para um reforço e atualização do que chamou de “maquinário da paz”.
Novamente, o Pacto para o Futuro inclui passos importantes para o desarmamento no mundo e para responder com o armamento do espaço sideral e do uso de armais letais autônomas como os drones.
António Guterres defendeu um cessar-fogo imediato e a paz em Gaza com a libertação de todos os reféns e a entrega de ajuda humanitária sem impedimentos. Ele também apelou ao fim imediato da violência no Líbano e a implementação da resolução do Conselho de Segurança 1701, que visa o fim dos confrontos.
Fim da guerra na Ucrânia e no Sudão
Na Rússia, Guterres voltou a pedir a paz na Ucrânia com base na Carta da ONU, no direito internacional e nas resoluções da Assembleia Geral. O líder da ONU também pediu que todos os lados na guerra do Sudão silenciem suas armas e retornem ao caminho de uma paz duradoura.
Para António Guterres, é preciso transformar palavras em ações e o Brics pode “ajudar muito” nessa direção.