Na COP28, o secretário-geral da ONU, António Guterres pediu um acordo sobre a eliminação gradual dos combustíveis fósseis.
Ao propor um Pacto de Solidariedade Climática, ele enfatizou a necessidade de os maiores emissores intensificarem seus esforços na redução de emissões, enquanto os países mais desenvolvidos devem apoiar as economias emergentes na agenda climática.
O relógio está correndo
Na reta final da Cúpula do Clima em Dubai, o chefe da ONU adicionou que, para garantir o sucesso da conferência, todos devem buscar “um resultado ambicioso que demonstre ação decisiva e um plano estruturado para manter viva a meta de 1,5ºC, protegendo aqueles na linha de frente da crise climática.”
Esta terça-feira, 12 de dezembro, é o último dia programado da COP28, que ocorre nos Emirados Árabes Unidos desde 30 de novembro. Nos últimos anos, as negociações têm se estendido na busca de consenso em questões sensíveis.
Os negociadores estão imersos em discussões para alcançar um consenso sobre tópicos fundamentais, como o destino dos combustíveis fósseis, o incremento das fontes de energia renovável, o fortalecimento da capacidade de enfrentamento das mudanças climáticas e a garantia de assistência financeira para nações vulneráveis.
Falando a jornalistas, Guterres destacou a corrida contra o tempo da humanidade, descrevendo que o planeta está “a minutos do desfecho” para atingir o limite de 1,5ºC, um dos principais marcos do aquecimento global conforme estabelecido pelo Acordo de Paris de 2015. “E o relógio continua correndo”, destacou.
Compromissos para soluções
O secretário-geral pediu que os países acelerem “as negociações de boa-fé e enfrentar o desafio” e alertou que qualquer “compromisso para soluções” não deve, de forma alguma, comprometer a ciência ou a necessidade de alcançar a maior ambição.
Ele enfatizou que em um mundo “fraturado e dividido”, a COP28 pode mostrar que o multilateralismo continua sendo nossa melhor esperança para enfrentar desafios globais.
Também durante coletiva de imprensa, o secretário executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, Unfccc, Simon Stiell, disse que as negociações sobre um documento final têm a chance de iniciar um novo capítulo que atenda às pessoas e ao planeta.
Financiamento
Ele enfatizou a importância das finanças como “o alicerce para ampliar a ação climática em todos os aspectos”. Stiell disse que as negociações em Dubai agora se resumem a dois problemas: ambição na mitigação e apoio a transição de forma adequada.
Ele ressaltou a possibilidade de alcançar níveis elevados de ambição nesses pontos, alertando que “se reduzirmos em um, comprometemos nossa capacidade de obter ambos.” Para Stiell, alcançar um acordo significativo, é essencial remover os diversos “bloqueios táticos desnecessários” que marcaram a trajetória da COP28.
Lembrando aos negociadores que o mundo está atento, ele enfatizou que a falta de consensos pode resultar num fracasso coletivo e que a segurança de 8 bilhões de pessoas está em jogo.
Balanço global
Após a histórica COP de Paris, Dubai é a primeira cúpula climática da ONU que avalia o progresso para alcançar os objetivos desenhados em 2015. O balanço global pode abrir caminho para planos nacionais ambiciosos de ação climática que os países devem apresentar em 2025.
Guterres pediu a intensificação de esforços para garantir máxima ambição na redução das emissões de gases de efeito estufa e na entrega da justiça climática. Ele destacou pontos de ação essenciais para aumentar a ambição e intensificar a ação climática na transição energética.
O chefe da ONU recomenda a triplicação da capacidade de energia renovável, duplicação da eficiência energética e eliminação dos combustíveis fósseis, suporte, treinamento e proteção social para aqueles que podem ser impactados negativamente e consideração das necessidades de países em desenvolvimento dependentes da produção de combustíveis fósseis.
Ele disse que “prazos e metas podem ser diferentes para países em diferentes níveis de desenvolvimento”, mas devem estar alinhados com o objetivo de “alcançar um zero global líquido até 2050 e preservar a meta de 1,5ºC”.
Justiça climática
Guterres lembrou que a COP28 começou com dois passos encorajadores: um acordo para operacionalizar o Fundo de Perdas e Danos para ajudar países vulneráveis a lidar com os impactos das mudanças climáticas e a recomposição do Fundo Verde para o Clima.
Diante dos desafios enfrentados pelas economias emergentes devido às dívidas, o líder da ONU instou à plena execução de “todos os compromissos feitos pelos países desenvolvidos em finanças e adaptação” e ressaltou que será imperativo adotar uma postura mais ambiciosa em relação à adaptação.
Ele acrescentou que a COP28 precisa transmitir de maneira inequívoca a compreensão por parte dos governos do desafio da adaptação, estabelecendo a ação como uma prioridade não apenas para os países em desenvolvimento, mas para todo o mundo.
Novo quadro de adaptação
Guterres recebeu positivamente o consenso em formação para um novo modelo de adaptação, mas destacou que um modelo desprovido de meios de execução é comparável “a um carro sem rodas”.
Para o secretário-geral, o aumento do financiamento destinado à adaptação para US$ 40 bilhões até 2025 representa um primeiro passo crucial e representa a metade de todos os fundos climáticos.
Ele enfatizou a importância dos próximos dois anos para estabelecer uma nova meta global de financiamento climático para além de 2025 e para os governos desenvolverem planos de ação climática nacionais completamente alinhados com o Acordo de Paris.
Num apelo aos doadores a encararem a urgência do desafio climático, o secretário-geral disse que “não podemos continuar empurrando o problema com a barriga. Estamos à beira do esgotamento e o tempo está acabando”.