O secretário-geral da ONU, António Guterres, incentivou que “para o bem do povo de Gaza, para o bem dos reféns e de suas famílias em Israel, e para o bem da região e do mundo em geral”, o governo de Israel e a liderança do Hamas cheguem a um acordo para cessar a violência na região.
Em coletiva de imprensa nesta terça-feira, o chefe da ONU também falou sobre a conclusão do relatório independente que investigou a alegação de Israel sobre um eventual envolvimento de “um número significativo” de funcionários da Agência da ONU de Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, com organizações terroristas.
Plano de ação para Unrwa
O documento concluiu que a agência dispõe de diversas ferramentas para garantir que permanece imparcial no seu trabalho. Guterres reforçou que a atuação da Unrwa é “insubstituível e indispensável” na região entre Gaza, Cisjordânia, Jordania, Síria e Líbano.
O painel, chefiado pela ex-ministra das Relações Exteriores da França, Catherine Colonna, publicou recentemente seu relatório, que concluiu que “o conjunto de regras e os mecanismos e procedimentos em vigor [na Unrwa] são os mais elaborados dentro do sistema da ONU”.
Por isso, Guterres explicou que um plano de ação está sendo colocado em prática para implementar as recomendações do relatório e apelou para a cooperação de doadores, países anfitriões e funcionários.
Recentemente, a agência solicitou US$ 1,2 bilhão para enfrentar a crise humanitária em Gaza e atender às necessidades na Cisjordânia, onde a violência está aumentando.
A Unrwa depende em grande parte de doadores e cerca de 16 países suspenderam suas contribuições no início deste ano após alegações israelenses de que 12 funcionários estavam envolvidos nos ataques de 7 de outubro. A ONU nomeou um órgão independente para analisar os esforços da agência para garantir o princípio humanitário da neutralidade.
O secretário-geral afirmou que a maioria dos países que suspenderam as contribuições para a Unrwa as retomaram e que está otimista com novos doadores. Além disso, alguns Estados-membros da ONU fizeram doações à agência pela primeira vez, e doadores privados também deram apoio.
No entanto, como a lacuna de financiamento persiste, ele pediu aos Estados Membros e aos doadores que se comprometam “generosamente” para garantir que o trabalho da agência continue.
“Este é o momento de reafirmar nossa esperança e nossas contribuições para uma solução de dois Estados, o único caminho sustentável para a paz e a segurança de israelenses, palestinos e de toda a região”, afirmou.
Evitar a escalada em Rafah
Guterres lembrou que quase sete meses se passaram desde os brutais ataques liderados pelo Hamas contra Israel, que deram início aos combates atuais. Nas últimas semanas, houve ataques aéreos na área de Rafah, no sul de Gaza, onde mais de 1,2 milhão de pessoas estão abrigadas, com acesso limitado a alimentos, assistência médica e outros serviços.
O chefe da ONU disse que um ataque militar nessa área “seria uma escalada insuportável, matando outros milhares de civis e forçando centenas de milhares a fugir”. Além disso, teria um impacto arrasador sobre os palestinos em Gaza, com sérias repercussões na Cisjordânia ocupada e em toda a região.
Guterres lembrou que “todos os membros do Conselho de Segurança e muitos outros governos expressaram claramente sua oposição a essa operação”. Ele fez um apelo “a todos aqueles que têm influência sobre Israel para que façam tudo o que estiver ao seu alcance para impedi-la”.
Evitar a ‘fome causada pelo homem’
Voltando-se para o norte, onde pessoas vulneráveis já estão morrendo de fome e doenças, ele pediu à comunidade internacional que “faça todo o possível para evitar uma fome totalmente evitável causada pelo homem”.
O líder da ONU disse que embora tenha havido um progresso gradual, muito mais é urgentemente necessário, incluindo a prometida abertura de dois pontos de passagem entre Israel e o norte de Gaza para que a ajuda possa ser trazida do porto de Ashdod e da Jordânia.
A falta de segurança é um grande obstáculo para a distribuição de ajuda em Gaza, e Guterres enfatizou que os comboios humanitários, as instalações e o pessoal, bem como as pessoas necessitadas, “não devem ser alvos”.
Ele agradeceu a entrega de ajuda por via aérea e marítima, mas disse que “não há alternativa ao uso maciço de rotas terrestres”. O chefe da ONU renovou seu pedido a Israel para que permita e facilite o acesso humanitário seguro, rápido e desimpedido em toda a Faixa de Gaza, inclusive para a Unrwa.