Em um discurso que marcou os 60 anos da Organização das Nações Unidas para o Comércio e Desenvolvimento, Unctad, o secretário-geral da ONU, António Guterres, destacou desafios que impedem uma economia global mais sustentável e inclusiva.
Para ele, novos e prolongados conflitos tem um efeito cascata em toda a economia global, com o aumento da dívida global e a regressão de indicadores de desenvolvimento, incluindo a pobreza e a fome. O chefe da ONU falou durante o Fórum de Líderes Globais, evento que marca as seis décadas do Unctad e acontece na sede da ONU em Genebra até 14 de junho.
Reforma da arquitetura financeira global
Guterres reafirmou seus avisos de que a arquitetura financeira internacional do mundo foi exposta como ultrapassada, disfuncional e injusta. Segundo ele, a atual estrutura “falhou em fornecer uma rede de segurança para os países em desenvolvimento atolados em dívidas”.
Ele ainda avaliou que o sistema de comércio internacional enfrenta pressões e está “à beira da fragmentação”.
Diante das tensões geopolíticas, aumento da desigualdade e dívida crescente, Guterres insistiu que o papel da agência da ONU para o Comércio e o Desenvolvimento é “mais relevante do que nunca” no trabalho para uma economia global mais sustentável e inclusiva, por meio do comércio e do investimento.
Mandato da Unctad
Citando o primeiro secretário-geral da Unctad, Raul Prebisch, ele reforçou que a agência não pode ser neutra em relação aos problemas de desenvolvimento “assim como a Organização Mundial da Saúde não poderia ser neutra em relação à malária.”
Assim, Guterres pediu mais diálogo entre as nações diante da quase triplicação das barreiras comerciais desde 2019, já que “muitas impulsionadas pela rivalidade geopolítica, sem preocupação com seu impacto nos países em desenvolvimento”.
Na avalição do secretário-geral, o mundo não pode se dividir em blocos rivais. Para implementar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ODS, garantir a paz e a segurança, ele recomenda que o mercado e economia global não permita espaço para a pobreza e a fome.
Visão compartilhada de futuro
A secretária-geral da agência para Comercio e Desenvolvimento, Rebeca Grynspan, reforça que o 60º aniversário da entidade ocorre em um momento de crise em cascata, com interrupções no comércio global, aumento da dívida e mudanças climáticas que afetam gravemente os países em desenvolvimento.
Para ela, o momento oferece uma oportunidade de refletir sobre as lições aprendidas nas últimas seis décadas e desenvolver um novo caminho, com uma visão compartilhada para o futuro.
Explorando novas estratégias para o desenvolvimento, o Fórum de Líderes Globais se concentrará no tratamento integrado do comércio e do desenvolvimento, e nas questões inter-relacionadas de finanças, tecnologia, investimento e desenvolvimento sustentável.
O fórum também contará com a participação de seis chefes de Estado e de governo e 28 ministros de comércio e relações exteriores de todas as regiões do mundo. Além disso, participarão representantes da sociedade civil, economistas renomados e organizações internacionais.
Fórum de Líderes Globais
O evento tem como objetivo inspirar novas perspectivas sobre o pensamento de desenvolvimento para abordar as complexidades da “poliglobalização”, caracterizada pela crescente diversidade e descentralização econômica, em meio à crescente interdependência dos países em escala global.
As discussões priorizarão as necessidades das nações em desenvolvimento, com ênfase especial nos países menos desenvolvidos, nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento e nos países em desenvolvimento sem litoral.
Estabelecida em 1964, a Unctad foi fundada com o objetivo de garantir a inclusão da globalização. Nas últimas seis décadas, a economia global testemunhou a ascensão do Sul Global, o surgimento de uma vasta economia digital e avanços notáveis na redução da pobreza e da fome no mundo.