Em evento para a celebração do Dia Mundial do Meio Ambiente, neste 5 de junho, o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez um alerta sobre o estado crítico do planeta, destacando que o mês passado foi o maio mais quente já registrado na história. A marca completa um ano de meses recordes consecutivos.
Em uma mensagem com diversos apelos por ação, Guterres enfatizou que a humanidade está no “momento decisivo” na luta contra as mudanças climáticas, alertando que o planeta está próximo de ultrapassar o limite de aquecimento global de 1,5 graus Celsius.
Momento decisivo
Ele enfatizou a importância de lidar com o aumento das emissões de carbono e avaliou que, embora a necessidade de ação global seja sem precedentes, as oportunidades de prosperidade e desenvolvimento sustentável também são grandes.
O chefe da ONU fez esse chamado por ação climática no icônico Salão da Vida Oceânica no Museu Americano de História Natural, em Nova Iorque. O local celebra a vida marinha com uma réplica da baleia azul de quase 10 mil quilogramas e 28 metros.
O museu também é conhecido pelos gigantes esqueletos de dinossauros, que foram mencionados no discurso. O secretário-geral enfatizou que “no caso do clima, não somos os dinossauros. Nós somos o meteoro. Não estamos apenas em perigo – nós somos o perigo. Mas também somos a solução.”
Também participou no evento o enviado especial do secretário-geral da ONU para Ambição e Soluções Climáticas, Michael Bloomberg, o presidente do Museu Americano de História Natural, Sean M. Decatur, e a jornalista Femi Oke.
Queda das emissões para manter temperatura global
Citando o último relatório do Serviço de Mudanças Climáticas Copernicus da Comissão Europeia, que mostra que o mês passado foi o maio mais quente da história, o chefe da ONU disse que as emissões globais precisam cair nove por cento a cada ano apenas para manter vivo o limite de aumento de temperatura de 1,5ºC acima dos níveis pré-industriais.
No ano passado, elas aumentaram em 1%. A Organização Meteorológica Mundial, OMM, também informou na quarta-feira que há 80% de chance de que o limite estabelecido no Acordo de Paris em 2015 seja ultrapassado em um dos próximos cinco anos.
Ele chamou atenção para os eventos climáticos extremos que já estão afetando milhões de pessoas ao redor do mundo e destacou a necessidade de uma ação climática imediata e coordenada para evitar uma catástrofe ambiental.
O chefe da ONU também fez menção ao recente desastre no Brasil, onde inundações arrasaram diversas partes do Rio Grande do Sul.
18 meses para salvar o mundo
O secretário-geral avalia que sair da beira do abismo “ainda é quase possível”, mas somente se as iniciativas forem levadas a sério. Para ele, tudo depende das decisões tomadas pelos líderes políticos durante esta década e “especialmente nos próximos 18 meses”.
Guterres explicou que a necessidade de ação climática não tem precedentes, mas também há oportunidades, não apenas para cumprir as metas climáticas, mas para a prosperidade econômica e o desenvolvimento sustentável. Ele lembrou que a diferença de meio grau no aquecimento global poderia significar o desaparecimento definitivo de alguns Estados insulares ou comunidades costeiras.
Além disso, cientistas apontam que a camada de gelo da Groenlândia e a camada de gelo da Antártica Ocidental podem entrar em colapso e causar um aumento do nível do mar. Sistemas inteiros de recifes de coral podem desaparecer, juntamente com 300 milhões de meios de subsistência. se a meta de 1,5ºC não for atingida.
“Máfia” dos combustíveis fósseis
Na avaliação de Guterres, enquanto bilhões de pessoas em todo o mundo veem suas vidas se tornarem mais caras devido à mudança climática, “os padrinhos do caos climático”, como se referiu aos conglomerados de combustíveis fósseis, obtêm lucros recordes e arrecadam trilhões em subsídios financiados.
Guterres disse que muitos no setor de petróleo e gás fizeram uma “greenwashing descarado”, tentando atrasar a ação climática. O secretário-geral fez um pedido para que essas empresas parem de agir como “facilitadoras da destruição do planeta”.
Para garantir o futuro mais seguro possível para a humanidade e para o planeta, ele definiu as medidas urgentes que devem ser tomadas: Reduzir as emissões, proteger as pessoas e a natureza dos extremos climáticos, aumentar o financiamento climático e reduzir o negócio dos combustíveis fósseis.
Chamado ao G20
Para Guterres, o maior ônus da ação deve recair sobre as nações mais ricas e os maiores emissores. Ele avalia que as economias avançadas do G20 devem ir “mais longe e mais rápido” e fornecer apoio técnico e financeiro às nações em desenvolvimento.
O secretário-geral pediu que os planos nacionais de ação climática estejam alinhados com o Acordo de Paris e incluam metas absolutas de redução de emissões para 2030.
Sobre justiça climática, ele disse que era uma vergonha que as nações mais vulneráveis estivessem sendo deixadas de lado com os impactos de uma crise climática que elas não fizeram nada para criar.
O financiamento climático mais justo e o fim da dívida e das altas taxas de juros que impactam muitas nações em desenvolvimento não é uma questão de caridade ou um favor, mas “fundamental para que todos possam viver no futuro”, destacou.
O líder da ONU agradeceu aos ativistas climáticos que pressionam por ações: “Vocês estão do lado certo da história. Vocês falam pela maioria. Continuem assim; não percam a coragem, não percam a esperança”.