As forças de Vladimir Putin tomaram neste sábado (17) a cidade de Avdiivka, no leste da Ucrânia, na maior vitória militar do Kremlin em quase um ano. O local é considerado chave para a conquista da região de Donetsk, que tem cerca de 55% de seu território já dominado pelos russos.
Na sexta (16), o Exército ucraniano começou a deixar a cidade para evitar um cerco total por tropas de Moscou, que intensificaram os ataques ao local desde o fim do ano passado. Segundo o general Oleksandr Tarnavskii, responsável pela operação do lado de Kiev, ainda assim alguns soldados seus foram capturados.
“Na etapa final da operação [de retirada], sob pressão das forças inimigas superiores, um certo número de militares ucranianos foi capturado”, escreveu o general no Telegram. Segundo ele, suas forças foram reagrupadas em uma linha secundária de defesa a oeste da cidade.
Avdiivka é hoje mais uma ruína na Ucrânia, cerca de 15 km ao norte da capital homônima da província de Donetsk, 1 das 4 regiões que Putin anexou ilegalmente no ano retrasado apesar de não reter controle total sobre ela. Antes da guerra, tinha 32 mil habitantes.
Para analistas militares, a tomada da cidade abre o caminho para Putin tentar tomar a região de Donetsk, que, ao lado da vizinha Lugansk, compõe o território histórico do Donbass (bacia do rio Don, em russo).
A capital, Donetsk, já estava em mãos de separatistas pró-Rússia desde o início da guerra civil de 2014, que prenunciou a invasão que completará dois anos no dia 24. A Ucrânia transferiu a administração da região para Kramatorsk, que fica mais 80 km ao norte de Avdiivka.
É a principal vitória russa na guerra desde a tomada de Bakhmut, 70 km a nordeste da cidade capturada neste sábado, que ocorreu em maio do ano passado. Depois disso, o principal desenvolvimento militar em solo foi o fracasso da contraofensiva ucraniana, que havia começado em junho.
Para o governo de Volodimir Zelenski, são péssimas notícias. Ele trocou há duas semanas a chefia das Forças Armadas. Pressionado em campo, o novo comandante, Oleksandr Sirskii, tem apostado em ações mais espetaculares para manter o moral das tropas —ataques com mísseis contra cidades russas e o afundamento de um grande navio da Frota do Mar Negro.
Mas sua posição é precária, não menos pela falta de munição. Kiev disse que estava lutando com uma desvantagem de 5 contra 1 em termos de artilharia disponível em Avdiivka. Para piorar, o pacote de ajuda militar mais importante à vista para a Ucrânia, os R$ 300 bilhões prometidos por Joe Biden, está represado pela oposição republicana na Câmara dos Estados Unidos.
Neste sábado (16), Zelenski apelou aos líderes reunidos na Conferência de Segurança de Munique, o mais tradicional encontro do tipo da Europa. “Infelizmente, manter a Ucrânia com um déficit artificial de armas, particularmente artilharia e capacidades de longa distância, permite a Putin se adaptar à atual intensidade da guerra”, afirmou.
Ele pediu essas armas e baterias de defesa antiaérea. A pressão sobre os países europeus também é grande: a Alemanha tem se recusado a fornecer mísseis de cruzeiro de longa distância Taurus, temendo que eles sejam usados contra território russo e, assim, expandir a guerra.
O primeiro-ministro alemão, Olaf Scholz, evitou responder diretamente a questionamentos de repórteres sobre o Taurus. Em relação à munição, a União Europeia já disse que só conseguirá entregar um terço do prometido a Kiev até março.
Para Putin, se a tomada de Avdiivka de fato se tornar o início da conquista de Donetsk, ele terá uma peça de propaganda política ideal para apresentar ao eleitorado no pleito presidencial que vai de 15 a 17 de março.
É um momento delicado na Rússia, após a morte nesta sexta do líder opositor Alexei Navalni na cadeia, e tudo o que o presidente pode querer é um trunfo militar —a guerra segue com apoio de 75% da população, segundo pesquisas.