A Comissão Internacional Independente de Inquérito da ONU para a Síria alertou nesta terça-feira que a guerra civil piora em “várias linhas de frente” devido às crescentes tensões regionais na sequência do conflito de Gaza. Com a situação, mais ataques foram registrados.
Em relatório a ser apresentado ao Conselho de Direitos Humanos na próxima semana, os especialistas revelam que essa piora é observada em meio “a padrões contínuos de crimes de guerra e receios de um conflito regional em larga escala”.
Ataques indiscriminados
Em pelo menos três ocasiões ocorreram ataques aéreos israelenses contra autoridades iranianas e milícias apoiadas pelo Irã em toda a Síria causando vítimas civis. Por mais de 100 vezes desde o início da guerra de Gaza, grupos afiliados ao Irã atacaram bases dos Estados Unidos no leste da Síria. Essa situação foi seguida por contra-ataques dos Estados Unidos.
Estima-se que mais de 150 civis perderam a vida no noroeste sírio, após ataques de forças do regime que em algumas vezes usaram bombas de fragmentação contra vítimas incluindo mulheres e crianças. O informe alerta que esses “ataques indiscriminados podem ser considerados crimes de guerra”.
A comissão também menciona ataques aéreos russos que resultaram em vítimas civis na região de Idlib e uma operação das forças turcas no nordeste sírio no inverno passado. O ato danificou instalações médicas e de energia afetando serviços essenciais que assistiam acima de 1 milhão de pessoas.
Em meio à violência no sul da Síria, houve uma investigação sobre um massacre em abril na região de Daraa. Pelo menos 10 civis foram executados por uma milícia pró-governo, muitos deles “com facas ou tiros à queima-roupa em atos que podem ser considerados crimes de guerra”.
Forças do governo posicionadas a poucos metros do massacre
A especialista Hanny Megally, que integra a comissão, disse que uma das constatações é que forças governamentais posicionadas a poucos metros do massacre não teriam conseguido intervir e proteger os civis, mostrando “como a Síria está se aprofundando na ilegalidade.”
Para ela, as forças de segurança predatórias e facções usam violência, detenção e ameaças para extorquir dinheiro de civis sujeitos a ser “preso, torturado, estuprado, morrer sob custódia ou desaparecer em todas as áreas do país se entrar em conflito com as autoridades”.
Estima-se que as Forças Democráticas Sírias, que combatem o regime, continuam mantendo cerca de 30 mil crianças nos campos de Al Hawl e Al Rawj em condições terríveis, por causa da suposta filiação de seus pais ao autoproclamado Estado Islâmico do Iraque e do levante, Isil.
O membro da comissão Lynn Welchman destaca que de uma “forma chocante” há mulheres, meninas e meninos yazidis que sobreviveram ao genocídio yazidi e outros crimes do Isil presas há mais de cinco anos com seus perseguidores.
A Síria concentra 13 milhões de pessoas, ou metade da população, que enfrenta insegurança alimentar. O total inclui 650 mil crianças sofrendo de desnutrição aguda.