Após mais de 800 dias preso, o jornalista guatemalteco José Rubén Zamora deixou neste sábado (19) da cadeia e começou a cumprir prisão domiciliar, em meio a um processo criticado por organismos de direitos humanos e pela comunidade internacional.
Zamora deixou a prisão no norte da Cidade da Guatemala, onde estava detido desde julho de 2022, após ter denunciado supostos atos de corrupção envolvendo o então presidente guatemalteco, Alejandro Giammattei, e a procuradora-geral, María Consuelo Porras.
Ele foi acusado pelo Ministério Público do país de suspeitas de chantagem, lavagem de dinheiro e tráfico de influência.
Mas o promotor que acusou Zamora foi incluído pelos Estados Unidos na Lista Engel de “corruptos e antidemocráticos”.
Segundo os EUA, o funcionário liderou investigações com acusações espúrias contra ex-promotores antimáfia. Coube à Procuradoria-Geral a nomeação dele ao cargo.
“Me sinto muito satisfeito e feliz pela solidariedade”, disse Zamora a jornalistas que o esperavam na saída da prisão.
“A primeira coisa que farei ao chegar em casa é falar com toda a minha família”, disse o jornalista de 68 anos. “Se eu tivesse ficado sozinho, morreria.”
Segundo ele, na prisão domiciliar poderá ao menos “dormir por oito horas”.
Na sexta-feira (18), o juiz Erick García concedeu a prisão domiciliar ao jornalista por considerar que, “por razões de direitos humanos, o prazo da prisão preventiva excedeu os limites”. O magistrado não decidiu pela liberdade de Zamora para sob a justificativa de evitar que ele deixe o país.
Zamora chegou a ser condenado em junho de 2023 a seis anos de prisão por lavagem de dinheiro, mas a sentença foi anulada e o julgamento deverá ser repetido.
A detenção de Zamora foi criticada pelos Estados Unidos, por organizações internacionais de imprensa e de direitos humanos e, também, pelo atual presidente da Guatemala, Bernardo Arévalo.
O jornalista é considerado “prisioneiro de consciência” (alguém processado por causa de suas crenças pessoais) pela Anistia Internacional e, em julho, recebeu um prêmio de reconhecimento de excelência pela Fundação Gabo, da Colômbia.
A ONU disse em agosto que Zamora estava detido em condições que equivaliam a tortura e apelou às autoridades que acompanhassem as alegações de condições inumanas.
Com APF e Reuters