A Confederação Brasileira de Futebol fracassou miseravelmente, recentemente, na tentativa de trazer um treinador estrangeiro de ponta para dirigir a seleção brasileira.
A entidade chefiada por Ednaldo Rodrigues bancava que o italiano Carlo Ancelotti, 64, comandaria o Brasil neste ano, a partir de junho, quando seu contrato com o Real Madrid terminasse.
Isso sem a imprescindível assinatura de contrato.
Deu no que deu: no fim do ano passado, Ancelotti renovou com o Real, deixando a CBF a ver navios –um deles, a própria seleção, meio que afundando devido a um péssimo 2023 sob Ramon Menezes e, depois, Fernando Diniz.
A confederação recorreu então a Dorival Júnior, 61, campeão da Copa do Brasil com o São Paulo, que fará sua estreia no próximo mês, em amistosos contra Inglaterra e Espanha.
Seu contrato vai até o fim da Copa do Mundo de 2026, para a qual precisará antes classificar a atualmente periclitante seleção.
Vamos portanto de era Dorival e boa sorte a ele, pois tudo indica que precisará.
Pensemos, contudo, no depois, Dorival sendo bem-sucedido ou não. E pensemos grande.
Pensemos em Pep Guardiola, 53, o melhor treinador do mundo, à frente da seleção.
Não se pensava nisso antes, em tempos recentes, porque o espanhol que ganhou tudo com o Manchester City (campeonatos e copas nacionais, Champions League, Mundial de Clubes) estava focado somente no time inglês.
Isso, entretanto, mudou. Guardiola deu entrevista à ESPN na qual questionou-se o que ele ainda almeja na carreira profissional.
A resposta: “Uma seleção nacional. Gostaria de ter a experiência de viver uma Copa do Mundo, uma Eurocopa, uma Copa América, o que seja. Gostaria de vivenciar isso”.
Guardiola não disse a partir de quando, até porque tem contrato com o Man City até a metade de 2025.
Na minha cabeça, encerrando esse vínculo, ele tirará um período sabático de um ano, que culminará na Copa do Mundo de 2026 (sediada por EUA, Canadá e México), estando então pronto para começar um ciclo em uma seleção de ponta.
Apesar de ele, na entrevista, ter dado uma de humilde e falado que é preciso saber que seleção o quer, t-o-d-a-s querem Guardiola.
Chega-se assim a este questionamento: qual seleção Guardiola quer? Deve ter suas preferências, e é certo que uma delas, quiçá a maior, é a seleção brasileira.
Pouco mais de uma década atrás, antes da Copa de 2014, no Brasil, o espanhol externou sua vontade de assumir o cargo, porém não houve negociação, e ele ao sair do Barcelona acabou no Bayern de Munique.
O fato é que Guardiola, mesmo antes de ser treinador, sempre foi um admirador, desde bem jovem, do futebol brasileiro.
Mais de uma vez elogiou o Brasil de 1970 (tricampeão no México), o Brasil de 1982 (que encantou e perdeu na Espanha), o São Paulo de 1992 (campeão intercontinental diante do Barcelona do jogador Guardiola).
Jogadores brasileiros estiveram com ele em anos recentes no Man City, foram prestigiados e triunfaram: Gabriel Jesus, Fernandinho, Danilo, Ederson –este último continua lá.
Assim sendo, e sabendo do desejo de Pep, o Brasil precisa deixar claro desde já que o quer.
A CBF –recuso-me a aventar a hipótese de que a entidade não considere a contratação do top dos tops– precisa fazer contato com ele já e deixar as portas abertíssimas para o multicampeão desembarcar no Brasil para o ciclo 2027-2030.
É cedo para assinar um contrato, porém é importante marcar território. Afirmar “fomos atrás dele, falamos com ele”. E fazer Guardiola se posicionar.
Teria, decerto, de ser uma posição definida e imediata. Nada de respostas escorregadias como “estou lisonjeado, vamos ver, vou pensar”. Ou quer ou não quer.
Se não quiser, não há o que se fazer e pensa-se em alternativas. Vai que Dorival tem sucesso e seja viável prosseguir; vai que Abel Ferreira, 53, se proponha ao desafio; vai que seja a vez de Renato Gaúcho, 53 (gostaria de um dia vê-lo lá).
Só Ancelotti está vetado. Esnobou a “Amarelinha”, como dizia Zagallo ao se referir à seleção brasileira, está fora, que fique pela Europa mesmo.
Mas, se Guardiola quiser, que o Brasil se permita essa oportunidade.
Pode até não dar certo, pois no futebol só um ganha e dezenas perdem, porém é necessário aproveitar a chance, rara, de contar com ele.
Que viria cheio de motivação e extremamente desejoso de ganhar o que ainda não tem: Copa América e Copa do Mundo. Empenho e gana não faltariam.
O historicamente, mesmo que não presentemente, melhor futebol do mundo merece (mais que merecer, precisa) ter o suprassumo dos treinadores.
Mesmo que seja para o “mercado futuro”, não é hora de pestanejar.