O governo do presidente Joe Biden, dos Estados Unidos (EUA), efetivou nesta quarta-feira 20 uma troca de prisioneiros com o governo da Venezuela, comandado pelo ditador Nicolás Maduro.
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Vários prisioneiros norte-americanos detidos na Venezuela foram libertados, enquanto o empresário Alex Saab, descrito como testa-de-ferro e associado de Maduro, era solto nos EUA.
A operação marcou o final de meses de negociações silenciosas entre os dois países, segundo fontes ouvidas pelo El Nuevo Herald, de Miami, EUA.
Saab é colombiano, mas um aliado do governante venezuelano.
Foram libertados 10 prisioneiros norte-americanos.
O presidente Joe Biden esteve intimamente envolvido no acordo final, disseram duas autoridades ao jornal norte-americano.
A negociação ocorreu depois de uma semana delicada de negociações para finalizar o acordo, que esteve perto de desmoronar em diversas ocasiões, disseram fontes a o portal McClatchy e ao Herald.
Há três semanas, Maduro não havia cumprido um outro acordo, que tinha como prazo 30 de novembro, estabelecido pela Casa Branca, para começar a libertar todos os cidadãos norte-americanos detidos sob custódia venezuelana.
Em troca, os EUA iriam aliviar, de forma limitada, as sanções ao setor petrolífero da Venezuela, implementadas semanas antes.
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Maduro não cumpriu o acordo, e Biden, segundo o Herald, não retomou as sanções.
As conversas que incluíram Saab, no entanto, tiveram prosseguimento.
Para o analista político colombiano, Alejandro Villanueva, mestre en Sociología pela Universidad Pedagógica Nacional de Colombia, a paciência de Biden com a Venezuela tem um motivo. Biden não quer se distanciar da América Latina, em um momento no qual os EUA buscam recuperar a influência perdida em várias regiões.
“Biden não teve sucesso na questão da Ucrânia e da Rússia, não teve sucesso na invasão ou digamos no conflito que surge no Médio Oriente na guerra entre o Estado de Israel e o grupo terrorista Hamas”, diz a Oeste o especialista.
“Além dos danos colaterais e internos que isto gerou, as coisas não funcionaram muito bem para os Estados Unidos na América Latina, levando em conta a questão do fentanil (tráfico da droga para os EUA) no México.”
Com a forte integração entre Venezuela e Colômbia, principalmente no norte colombiano, onde fica a cidade de Barranquilla, Bustos diz que a libertação de Saab, natural da cidade, é uma forma de os EUA ficarem, de maneira mais diplomática, mais próximos de uma região crucial para eles. Isso ajudaria inclusive no combate ao tráfico de drogas.
“A Colômbia é local de trânsito tanto de imigrantes quanto de armas e drogas, principalmente cocaína”, ressalta Bustos.
“Então há uma aproximação e uma política de aliviar um pouco as tensões dos EUA na América Latina, para que o país não perca o controle da região.”
Saab é acusado de lavagem de dinheiro, entre outras coisas.
Biden, nesta política de “distensão”, tem como objetivo libertar todos os cidadãos norte-americanos detidos nas prisões venezuelanas.
Isto inclui os designados como detidos injustamente pelo Departamento de Estado e aqueles que não o são, além da extradição de um fugitivo escondido na Venezuela.
Para tanto, os EUA empreenderam uma série de esforços neste sentido, ressaltou o jornal.
Acabaram prendendo Saab. Segundo o Herald, pesou para a prisão o conhecimento de Saab sobre o funcionamento interno do regime de Maduro.
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A libertação do colombiano, portanto, é vista como uma conquista significativa para Maduro.
O ditador buscou o regresso do seu dito parceiro e operador internacional, em um momento no qual ele está acuado, depois de reivindicar 70% da Guiana e em meio à pressão para liberar a candidatura da opositora Maria Corina Machado à presidência, em 2024.
A prisão do empresário
Saab foi detido pelas autoridades de Cabo Verde em 2020, quando a administração do então presidente Donald Trump até havia enviado navios da marinha dos EUA para patrulhar a costa do país africano.
O colombiano estava sob a emissão de um alerta vermelho da Interpol.
O empresário alegou, na ocasião, ser um enviado especial que viajava com Maduro ao Irã em uma missão comercial. A extradição de Saab para os EUA ocorreu em outubro de 2021.
A acusação de lavagem de dinheiro decorreu de contratos habitacionais de Saab com o governo venezuelano. E também de transferência de milhões de dólares para os Estados Unidos e outros países.
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Saab acabou também se tornando informante da Drug Enforcement Administration (DEA), órgão norte-americano responsável pela gestão de repressão a drogas.
Ele entregou à DEA 12 milhões de dólares recebidos em operações realizadas até 2019. Poderia pegar até 20 anos de prisão e aguardava julgamento até sua libertação na quarta-feira.
Além de Saab, há ainda, segundo o Herald, dezenas de funcionários, empresários e empreiteiros venezuelanos presos ou investigados pelos EUA.
A alegação, de um tribunal federal em Miami, é de que eles roubaram coletivamente bilhões de dólares dos EUA em esquemas de corrupção que supostamente envolviam Maduro, o falecido presidente venezuelano Hugo Chávez e outros funcionários da petroleira Petróleos de Venezuela SA (PDVSA).
Maduro, segundo o Herald, tem interesse em negociar um acordo mais amplo que garanta a libertação de todos os norte-americanos detidos no país. Isso tem atraído o presidente Joe Biden a um diálogo cada vez maior com o ditador venezuelano.