Alvo de protestos após a inundação que matou ao menos 216 pessoas e devastou regiões de Valência, na Espanha, o presidente regional (cargo equivalente ao de governador no Brasil), Carlos Mazón, pediu pela primeira vez desculpas à população, nesta sexta-feira (15), e admitiu falhas em sua gestão.
“Quero pedir desculpas àqueles que sentiram que a ajuda não chegou ou que acham que ela não foi suficiente”, disse Mazón mais de duas semanas após a tragédia, provocada pela maior tempestade do século no país. “Não vou negar erros ou fugir de responsabilidades.”
Ele não especificou quais foram as falhas, mas parte da população acusa o governo de negligência e diz que os alertas para as chuvas chegaram com horas de atraso. Algumas das vítimas relataram que receberam os avisos quando a água já havia invadido casas e arrastava carros.
A família real espanhola e outras autoridades, incluindo o primeiro-ministro Pedro Sánchez, também são alvos de protestos. No começo do mês, uma multidão chegou a jogar lama no rei Felipe 6º e na rainha Letizia durante visita dos monarcas a um dos locais mais atingidos. No caso de Mazón, manifestantes pedem sua renúncia.
O governo central disse que emitir alertas para a população é responsabilidade das autoridades regionais. Esses, por sua vez, disseram que agiram da melhor forma possível com as informações disponíveis. Sánchez já afirmou que qualquer negligência potencial seria investigada.
Pouco antes do pronunciamento de Mazón, manifestantes voltaram às ruas e o chamaram de mentiroso e de assassino. “É legítimo perguntar se, em geral, o sistema respondeu como acreditávamos que deveria responder. Para este último, senhoras e senhores, tenho a primeira resposta: não o fez”, afirmou ele.
As chuvas, convertidas em correntes selvagens que arrastaram tudo ao seu redor, foram uma armadilha mortal para os mais velhos, aqueles que mesmo ficando em casa não conseguiram escapar quando se viram com a água literalmente no pescoço. A polícia divulgou um relatório nesta quarta-feira (14) sobre o perfil das vítimas: quase metade das pessoas mortas tinha 70 anos ou mais.
Os números mostram que 131 das vítimas em Valência eram homens, e 85, mulheres. Também apontam que 104 tinham mais de 70 anos, incluindo 15 com mais de 90. Nove crianças morreram nas enchentes. Estrangeiros também foram atingidos: pessoas de 11 nacionalidades morreram.
A tragédia foi o pior desastre relacionado a inundações na Europa em um único país desde 1967, quando pelo menos 500 pessoas morreram em Portugal.
Cientistas dizem que eventos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes na Europa e em outros lugares, devido às mudanças climáticas. Meteorologistas acreditam que o aquecimento do Mediterrâneo, que aumenta a evaporação da água, desempenha um papel fundamental na intensificação das chuvas torrenciais.