O principal candidato da oposição à Presidência da Venezuela, Edmundo González, disse nesta sexta-feira (20) que buscou refúgio diplomático depois de ser avisado de que as forças de segurança do ditador Nicolás Maduro estavam prestes a prendê-lo.
González, a quem a coalizão opositora considera vencedor da eleição realizada em 28 de julho, disse à Reuters, em entrevista em Madri, que poderia ter sido preso e possivelmente torturado se tivesse permanecido na Venezuela.
Ele partiu para a Espanha, segundo seu relato, depois de conseguir garantias de que sua família e propriedades na Venezuela estariam seguras. O ex-diplomata de 75 anos declarou que queria estar livre para buscar apoio de líderes mundiais em sua tentativa de ser reconhecido como presidente eleito.
“Um agente de segurança que trabalhava comigo me puxou de lado para dizer que havia recebido informações de que os órgãos de segurança estavam indo atrás de mim e que era melhor buscar refúgio”, disse González.
“Eu poderia ter me escondido, mas precisava estar livre para poder fazer o que estou fazendo, transmitindo ao mundo o que está acontecendo na Venezuela, fazendo contatos com líderes mundiais.”
Após pedido do Ministério Público, controlado pelo regime, um tribunal venezuelano emitiu um mandado de prisão contra González, acusando-o de conspiração e de outros crimes, depois de Maduro atribuir à oposição uma tentativa de golpe.
O governo venezuelano não respondeu imediatamente a um pedido de reação aos comentários de González nesta sexta.
González ressaltou que já se encontrou com figuras políticas espanholas de alto escalão, como o premiê Pedro Sánchez, desde sua chegada em 8 de setembro. Declarou ter recebido convites para visitar a Alemanha, Holanda e a Comissão Europeia, e fará uma turnê pela Europa.
Ele disse estar confiante de que uma transferência pacífica de poder ainda seja possível na Venezuela. Em tese, Maduro assume para um terceiro mandato em 10 de janeiro e 2025.
“Quero garantir que a vontade dos 8 milhões de venezuelanos que votaram em mim em 28 de julho seja respeitada”, disse. “Essa é uma decisão que já foi tomada e aspiro a honrá-la plenamente.”
González disse que buscou refúgio na embaixada holandesa e, após 32 dias, decidiu deixar a Venezuela, mudando-se para a residência do embaixador espanhol para solicitar asilo em Madri.
Ele disse que sabia que, uma vez emitido o mandado de prisão, enfrentaria uma possível pena, potencialmente em “uma das prisões que eles converteram em centros de tortura na Venezuela”.
Na quarta-feira (18), dez dias depois de González desembarcar na Espanha para pedir asilo político, o regime venezuelano divulgou uma carta em que o opositor informa às autoridades sobre a decisão de deixar o país e na qual também teria se comprometido a acatar a sentença que confirmou a reeleição de Maduro. Após o documento vir a público, o ex-diplomata disse ter sido coagido a assiná-lo.
A carta é assinada por González e pelo líder da Assembleia Nacional da Venezuela, Jorge Rodríguez, que a exibiu durante uma entrevista coletiva em Caracas.
“Sempre estive e continuarei disposto a reconhecer e a cumprir as decisões adotadas pelos órgãos judiciais no âmbito da Constituição, incluindo o referido acórdão da Câmara Eleitoral [do Supremo Tribunal de Justiça] que, embora eu não compartilho, cumpro porque se trata de uma resolução do mais alto tribunal da República”, diz trecho da carta, que ainda firmava um compromisso de sigilo entre as partes.