A Organização Mundial da Saúde, OMS, liderou duas missões para transferir 32 pacientes críticos, incluindo duas crianças, do Complexo Médico Nasser, no sul de Gaza. As operações foram realizadas entre domingo e segunda-feira em meio a combates contínuos e restrições de acesso.
As missões de “alto risco” foram conduzidas em estreita parceria com o Crescente Vermelho Palestino e o Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários, Ocha.
Transferência de alto risco
A transferência de pacientes foi solicitada pela equipe do hospital depois que a unidade ficou fora de funcionamento após uma operação militar em 14 de fevereiro, realizada na sequência de um cerco que durou uma semana.
Pacientes em estado bastante frágil foram transferidos em meio a um conflito ativo perto do comboio de ajuda. As condições das estradas dificultavam a rápida circulação das ambulâncias, colocando ainda mais em risco a saúde dos pacientes.
O Hospital Nasser não tem eletricidade ou água corrente, e o lixo médico e demais dejetos estão criando um terreno fértil para doenças. A equipe da OMS disse que a destruição ao redor do hospital era “indescritível”.
Estima-se que 130 pacientes doentes e feridos e pelo menos 15 médicos e enfermeiros permaneçam dentro do hospital e a OMS teme pela segurança e bem-estar deles.
A agência considera o desmantelamento e degradação do Complexo Médico Nasser “um golpe duro para o sistema de saúde de Gaza”. As unidades da zona sul já estão funcionando muito além da capacidade máxima e mal conseguem receber pacientes adicionais.
Colapso da ordem civil prejudica entrega de comida
Nesta terça-feira, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, anunciou a interrupção das entregas de ajuda alimentar no norte de Gaza até que estejam criadas condições que permitam uma distribuição segura.
As entregas foram retomadas no domingo após uma suspensão de três semanas. O plano era enviar 10 caminhões de alimentos por sete dias seguidos, para ajudar a conter a onda de fome e desespero e começar a construir confiança nas comunidades de que haveria comida suficiente para todos.
No entanto, no domingo, quando o PMA iniciou a rota em direção à Cidade de Gaza, o comboio foi cercado por multidões de pessoas famintas perto do posto de controle de Wadi Gaza.
As equipes de ajuda sofreram várias tentativas de invasão do comboio por pessoas que tentavam subir a bordo dos caminhões. Depois, ao entrar na cidade de Gaza sob tiros, os profissionais do PMA conseguiram distribuir apenas uma pequena quantidade de comida ao longo do caminho.
Na segunda-feira, a viagem do segundo comboio para o norte enfrentou um caos completo e violência devido ao colapso da ordem civil. Vários caminhões foram saqueados entre Khan Younis e Deir al Balah e um motorista foi espancado.
Entregas de forma responsável
Os últimos relatórios confirmam a queda vertiginosa de Gaza para um quadro de fome. Alimentos e água potável tornaram-se incrivelmente escassos e as doenças são abundantes, comprometendo a nutrição e a imunidade de mulheres e crianças e resultando em um surto de desnutrição aguda. Segundo o PMA, as pessoas já estão morrendo de causas relacionadas à fome.
Um relatório divulgado na segunda-feira pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, e pelo PMA, com base em dados recentes, conclui que a situação é particularmente extrema no norte da Faixa de Gaza.
Rastreios nutricionais realizados em abrigos e centros de saúde descobriram que 15,6%, ou uma em cada seis crianças com menos de dois anos de idade, está gravemente desnutrida.
O PMA buscará maneiras de retomar as entregas de forma responsável o mais rápido possível. A agência defende uma expansão em grande escala do fluxo de assistência para o norte de Gaza para evitar desastres.
Além do aumento do volume de ajuda que entra na Faixa de Gaza, o PMA pede novos pontos de passagem para o norte de Gaza, um sistema de notificação humanitária funcional e uma rede de comunicação estável, além da melhora da segurança para funcionários e para as pessoas que recebem assistência.