A adaptação a eventos extremos será prioridade de uma força-tarefa contra mudanças climáticas convocada pelo governo federal para dar apoio técnico à presidência brasileira do G20, o grupo das maiores economias do mundo.
Mudanças climáticas são um dos três temas estabelecidos como prioritários pelo governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante o período do país à frente do G20. Os outros dois são governança global e combate à fome e pobreza.
Além de presidir o G20 em 2024, o Brasil será o anfitrião em 2025 da 30ª edição da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a COP30, que será realizada em Belém.
Convocados pelo governo, 12 especialistas estão encarregados de fazer análises e recomendações de políticas públicas sustentáveis. A agenda busca transformações nos modos de produção e consumo para limitar o aumento da temperatura global em 1,5°C, como estabelecido no Acordo de Paris.
O relatório final apresentará diretrizes para planos nacionais de transição climática e orientações para refundar os marcos de financiamento para a transição verde, repensando papéis desempenhados por bancos de desenvolvimento, agentes privados e atores estatais.
As economistas Mariana Mazzucato, professora do University College de Londres, e Vera Songwe, secretária-executiva da comissão econômica para a África do Banco Mundial, coordenam o grupo de especialistas.
Diante da enchente histórica que está em curso em Porto Alegre e em diversas cidades do Rio Grande do Sul, integrantes do projeto afirmam que eventos extremos já se tornaram frequentes e que isso torna políticas de adaptação e mitigação urgentes.
“Os países precisam ir além de mitigar efeitos das mudanças climáticas, precisam conduzir uma verdadeira transição, com ênfase à adaptação”, diz Arilson Favareto, coordenador do projeto pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), instituição responsável pela secretaria-executiva da força-tarefa de mudanças climáticas do G20.
Ele menciona a necessidade de transformações urgentes em três áreas: produção de alimentos com menor impacto na natureza, substituição de combustíveis fósseis por matrizes energéticas limpas, e a amplas adaptações dos sistemas urbanos. “Isso significa repensar todas as infraestruturas urbanas, de maneira adaptada ao clima. Isso inclui transporte, construção civil, para citar alguns casos.”
Mudanças que, de forma geral, ainda aparecem timidamente no planejamento das principais cidades brasileiras, afirma Bianca Tavolari, também coordenadora do Cebrap na força-tarefa do clima.
Ela cita como exemplo negativo o fato de que cidades como São Paulo ainda excluírem grande parte das vagas de garagens do cálculo da área construída de edifícios, o que na prática deixa o espaço destinado ao automóvel mais barato.
“Se a ideia é desincentivar o transporte individual motorizado e priorizar o investimento em transporte coletivo, basta pensar que temos normas que priorizam a locomoção por automóvel, prevendo [prédios] com vagas de garagem sem custo adicional”, diz Tavolari.