O corpo do ex-ditador Alberto Fujimori foi enterrado na tarde deste sábado (14) em Lima, no Peru. Apoiadores e familiares participaram do enterro que ocorreu no cemitério Campo Fe de Huachipa.
Fujimori, que esteve à frente do país sul-americano de 1990 a 2000, morreu na quarta-feira (11), aos 86 anos, depois de passar por um tratamento contra um câncer de língua. Figura controversa, ele tinha tantos apoiadores quanto detratores.
O velório de Fujimori foi encerrado horas antes do sepultamento e começou na quinta-feira (12). Ao longo de três dias, diversas autoridades e apoiadores compareceram para o adeus ao ditador que moldou as últimas três décadas da política local sob a sombra de violações dos direitos humanos.
O ex-presidente teve papel central no enfrentamento da guerrilha de esquerda Sendero Luminoso e também foi condenado a 25 anos de prisão por crimes contra a humanidade.
A presidente do Peru, Dina Boluarte, ofereceu neste sábado as últimas homenagens póstumas de Estado a Fujimori no palácio do governo. Outrora adversária de Fujimori, a chefe de governo conduziu silenciosamente a breve homenagem. O governo decretou três dias de luto nacional desde quinta-feira.
Coberto com a bandeira nacional, o caixão entrou nos ombros de uma equipe de seis carregadores e foi escoltado por um batalhão de cavalaria dos Hussardos Junín, que compõem a guarda presidencial.
Dezenas de pessoas saudaram a passagem do cortejo com bandeiras e saudações a Fujimori. Antes da cerimônia no palácio presidencial, aconteceu um evento religioso de despedida que terminou com um toque de trombetas e uma salva de 21 tiros no Grande Teatro Nacional.
Fujimori liderou o Peru de 1990 a 2000 e passou 16 anos na prisão por crimes contra a humanidade.
Sem conter as lágrimas, a filha de Fujimori, Keiko, elogiou o trabalho de seu pai à frente do país e afirmou que “sempre experimentou uma despedida” enquanto Fujimori ficou preso por 16 anos, antes de ser contemplado com um indulto.
“O povo reconhece quem é o melhor presidente […] Fujimori nunca vai morrer!”, disse Kenji, filho do ex-ditador. Keiko, ex-candidata à Presidência, também subiu ao púlpito para elogiar o político.
“Finalmente você está livre do ódio e da vingança […] você está livre desses 16 anos de prisão injusta […] o povo peruano te absolveu de tanta perseguição”, disse ela, que também é líder do partido fujimorista Força Popular.
Centenas de simpatizantes, com bonecos ou fotos de Fujimori com a faixa presidencial se aglomeraram em frente ao teatro para prestar homenagens.
Emocionados, entoaram o “ritmo do chinês”, canção da última campanha presidencial de Fujimori, ou o refrão “chino valiente aquí está tu gente” (chinês valente, seu povo está aqui). Apesar de ser conhecido como “o chinês” popularmente, o ex-presidente tinha origem japonesa.
Fujimori deixou a prisão em dezembro passado por razões humanitárias. Ele cumpria uma pena de 25 anos por homicídio, sequestro e outros graves abusos cometidos por militares durante o enfrentamento à guerrilha de esquerda Sendero Luminoso.
Na guerra brutal contra a guerrilha, estima-se que mais de 70 mil peruanos tenham morrido, incluindo inocentes. Fujimori foi preso em 2005 e começou a ser julgado no Peru dois anos depois.
Depois de 15 meses, ele foi condenado por comandar esquadrões da morte que sequestraram, torturaram e mataram, além de ser apontado também como cabeça de um esquema de corrupção. Foi então transferido para a penitenciária de Barbadillo, onde ficou até dezembro de 2017, quando recebeu indulto do então presidente Pedro Pablo Kuczynski, conhecido como PPK.
O indulto foi revogado em 2019, levando Fujimori de volta à prisão de Barbadilllo. Em dezembro de 2023, o Tribunal Constitucional do Peru o liberou para cumprir o resto da pena na casa de sua filha, Keiko. Durante os 16 anos em que esteve preso, Fujimori sempre defendeu sua inocência.
Na economia, Fujimori enfrentou um período turbulento marcado pela hiperinflação na economia. No mesmo ano, com o Congresso voltado contra si, o então presidente deu o chamado autogolpe, fechando o Parlamento com apoio militar e com tanques nas ruas, declarando o país em estado de emergência e estabelecendo toques de recolher em bairros de alta criminalidade. Fujimori convocou uma nova Constituinte, composta basicamente por legisladores aliados, que redigiram a Carta de 1993.
Fujimori, que chegou ao poder como um outsider ao derrotar o escritor e posteriormente ganhador do Prêmio Nobel Mario Vargas Llosa, em 1990, até hoje divide opiniões no país.
“Este senhor se foi sem pedir desculpas aos familiares ou pagar uma indenização. Para mim é um ditador condenado por vários crimes”, disse à agência de notícias AFP Gladys Rubina, irmã de uma das 15 vítimas do massacre de Barrios Altos.
O presidente da Comissão da Verdade e Reconciliação, órgão que investigou os anos de violência política no Peru, lamentou que ele tenha morrido “sem pedir perdão” às vítimas civis do conflito. “Ele foi uma pessoa que trabalhou para o Peru, fez coisas boas, mas em outras não correspondeu ao cargo que ocupava e usurpou”, disse Salomón Lerner Febres, ex-diretor da comissão.