Os principais protagonistas das eleições da França repercutiram, neste domingo (7), as projeções de boca de urna que indicam a coalizão de esquerda Nova Frente Popular (NFP) como a mais votada no segundo turno das eleições legislativas francesas.
O resultado foi considerado uma surpresa. Com isso, a esquerda torna-se o maior bloco parlamentar em uma França partida em três. As pesquisas de boca de urna foram divulgadas às 20h de Paris (15h de Brasília), após um pleito marcado pela ascensão da ultradireita, pelo forte comparecimento às urnas (67%, o maior desde 1981) e pelo temor de quebra-quebra.
Segundo o instituto Ipsos, a NFP tornou-se o maior bloco, com até 192 assentos, seguido pela coalizão Juntos, do presidente Emmanuel Macron, com até 170 cadeiras, e pela antes favorita Reunião Nacional (RN), de ultradireita, com até 152 deputados. Antes, esses blocos tinham, respectivamente, 150, 250 e 89 deputados.
EMMANUEL MACRON
De acordo com a AFP, o presidente francês, Emmanuel Macron, pediu neste domingo (7) prudência após serem divulgadas as primeiras projeções que indicam vitória da esquerda nas eleições legislativas antecipadas, e afirmou que sua aliança de centro-direita “segue muito viva”, segundo pessoas próximas.
“A questão é quem governará daqui para frente e conseguirá uma maioria”, acrescentou Macron, que apoiou a coalizão de centro, que deve ficar em segundo lugar, conforme as projeções.
JEAN-LUC MÉLENCHON
O líder de esquerda Jean-Luc Mélenchon, adversário de Macron nas últimas eleições presidenciais, afirmou que os franceses rejeitaram “o pior cenário possível” e comemorou o resultado que dá à sua coalizão o maior número de assentos no Parlamento francês, segundo as projeções estimam.
“Nosso povo rejeitou claramente o pior cenário possível”, declarou Mélenchon. Ele também disse que a esquerda deve governar o país.
“A vontade do povo deve ser estritamente respeitada. Nenhum arranjo seria aceitável. A derrota do presidente e sua coalizão está claramente confirmada. O presidente deve aceitar sua derrota. O [atual] primeiro-ministro [Gabriel Attal] deve sair. O presidente deve convidar a Nova Frente Popular para governar”, disse.
“Saúdo aqueles que se mobilizaram, porta a porta, para convencer e arrancar um resultado que diziam impossível”, disse Mélenchon. “Nosso povo descartou a solução do pior. É um alívio para a maioria das pessoas em nosso país.”
MARINE LE PEN
A líder do Reunião Nacional, Marine Le Pen, disse que a vitória do grupo “está apenas adiada”. “A maré está subindo. Não subiu o suficiente desta vez, mas continua a subir.”
“Emmanuel Macron está em uma situação insustentável. Quem vai ser o primeiro-ministro? Jean-Luc Mélenchon? Macron vai ter que administrar agora a situação que impôs aos franceses. Não sei como ele vai fazer”, disse, referindo-se à antecipação das eleições, feita após o presidente usar um dispositivo constitucional de dissolver o Parlamento após seu grupo político ser derrotado nas eleições para o Parlamento Europeu.
Le Pen também enalteceu a ampliação da bancada do RN no Parlamento francês. “Tenho muita experiência para ficar desapontada com um resultado em que dobramos nosso número de deputados.”
JORDAN BARDELLA
O líder da ultradireita Jordan Bardella falou em “aliança da desonra” ao se referir à possibilidade de pactuação entre a Nova Frente Popular e o Juntos, nome da coligação de centro-direita apoiada por Macron.
“Mais do que nunca, o Reunião Nacional encarna a única alternativa. Nada pode deter um povo que recuperou a esperança.”
“Privaram a França de qualquer resposta a suas dificuldades cotidianas. Os arranjos eleitorais entre um presidente isolado e uma extrema esquerda incendiária não levarão o país a lugar algum. A pergunta é: o que eles vão fazer? Mas um vento de esperança surgiu e ele nunca mais vai parar”, acrescentou.
“Digo esta noite com gravidade que privar milhões de franceses da possibilidade de verem suas ideias chegarem ao poder nunca será um destino viável para a França.”
GÉRALD DARMANIN
O ministro do Interior, Gérald Darmanin, aliado de Macron, disse que, na sua avaliação, “ninguém pode dizer que venceu esta eleição legislativa, especialmente não Melenchon”, rebatendo o líder de esquerda.
RAPHAEL GLUCKSMANN
O líder francês da centro-esquerda, Raphael Glucksmann, frisou que a esquerda está à frente, mas que o Parlamento ficou dividido. “Teremos que agir como adultos. “Vamos ter que conversar, discutir, engajar em diálogo. O equilíbrio de poder mudou no parlamento e haverá uma mudança fundamental na cultura política.”