O astro da seleção masculina de futebol da França, Kylian Mbappé, chamou os franceses, principalmente as gerações mais jovens, a votar nas eleições legislativas antecipadas e convocadas pelo presidente Emmanuel Macron no domingo (9).
“Somos uma geração que pode fazer a diferença. Hoje vemos muito bem que os extremos estão às portas do poder, e temos a oportunidade de escolher o futuro do nosso país. É por isso que chamou os jovens de ir votar, de realmente se conscientizar da importância da situação”, disse Mbappé em entrevista coletiva na véspera da estreia dos Bleues contra a Áustria, nesta segunda (17), na Eurocopa, competição continental que este ano ocorre na Alemanha.
“Penso que estamos em um momento crucial da história de nosso país. É preciso saber separar as coisas e ter senso de prioridades. A Euro tem um lugar muito importante em nossas carreiras, mas somos cidadãos antes de tudo, e acho que não devemos estar desconectados do mundo que nos rodeia, e muito menos quando se trata de nosso país”, afirmou o craque.
O cenário político na França entrou em ebulição após o resultado das eleições ao Parlamento Europeu, no domingo passado. Com uma vitória esmagadora do partido ultradireitista Reunião Nacional (RN), Macron tomou a decisão de dissolver a Assembleia Nacional e convocar o novo pleito legislativo nacional.
Prevista na Constituição, a medida foi vista como uma arriscada estratégia de Macron de usar o receio de parte considerável da população com a ultradireita para catalisar apoio para si e tentar melhorar sua posição política fora e dentro do Legislativo, onde tem dificuldades para aprovar projetos de lei sem maioria parlamentar.
Os rearranjos políticos que nasceram da dissolução, no entanto, apontam para mais uma derrota macronista. As esquerdas radical e moderada se uniram para apoiar em bloco candidaturas de seu campo político, e a direita, ainda que fragmentada, tem a força eleitoral recente do RN e não dá sinais de que vai ver uma debandada substancial de moderados para o centro governista.
Mbappé evitou falar no RN na entrevista coletiva, muito embora praticamente todas as perguntas fizessem referência à situação política do país. Nos últimos dias, jogadores da seleção têm falado mais abertamente sobre o assunto, e o atacante Marcus Thuram chegou a dizer que é preciso “lutar para que o Reunião Nacional não vença”.
“Eu compartilho dos mesmos valores do Marcus. Falei de valores de diversidade, de tolerância, de respeito. É claro que estou com ele nessa, e não acho que ele exagerou “, disse Mbappé.
A Federação Francesa de Futebol (FFF) publicou comunicado neste sábado (15) dizendo que a organização “se associa ao chamado ao voto, uma exigência democrática”. A FFF, por outro lado, ressaltou também que “seja compreendida e respeitada sua neutralidade como instituição, assim como a da seleção nacional da qual é responsável”. “Deve-se, portanto, evitar qualquer forma de pressão e uso político da seleção da França”, afirma a federação no comunicado.
Neste sábado (15), milhares de pessoas protestaram contra o avanço da ultradireita no país, em Paris e outras grandes cidades.
Em Paris, a marcha começou às 9h (horário de Brasília) na Praça da República, no leste da cidade. Os manifestantes seguiram por ruas da capital francesa até o centro de Paris. A polícia disse que 75 mil pessoas compareceram, e sete pessoas foram presas —no país inteiro, o número de manifestantes teria totalizado 217 mil.
Já o sindicato CGT informou a uma TV local que 250 mil marcharam em Paris e 640 mil em todo o país.
Pelo menos 150 atos semelhantes ao de Paris ocorreram em cidades como Marselha, Toulouse, Lyon e Lille.
O primeiro turno do pleito legislativo acontece no próximo dia 30. O segundo turno está previsto para o dia 7 de julho.