Centenas de profissionais do setor de bares e restaurantes da França publicaram nesta terça-feira (16) um manifesto contra a lei de imigração, recordando os valores de hospitalidade da cozinha francesa e assegurando o seu apoio aos muitos imigrantes sem documentos que trabalham no setor.
“Nós nos opomos a esta lei e exigimos que seja implementada uma verdadeira política de integração, especialmente através do trabalho, para benefício do nosso setor e da sociedade como um todo”, afirma o texto assinado por 200 personalidades do mundo da cozinha.
Entre eles estão chefs que já possuíram ou que ainda possuem a estrela Michelin, a mais alta distinção da gastronomia, como Olivier Roellinger, Michel Bras e Mauro Colagreco, e também a jovem guarda da cozinha multicultural, como Manon Fleury e Abdel Alaoui.
“Colocaremos sempre o talento, o desejo e a coragem à frente da nacionalidade, da origem ou do estatuto administrativo”, defende o manifesto, que recorda que o setor precisa “formar, recrutar e desenvolver dezenas de milhares de pessoas”.
Quanto aos imigrantes sem documentos nas chamadas “profissões de escassez”, o texto final da lei de imigração dá aos agentes de segurança o poder de decisão sobre a regularização da situação dessas pessoas.
Aprovado pelo parlamento francês em 19 de dezembro, o texto, entre outras ações, restringe o pagamento de ajudas sociais a estrangeiros, estabelece cotas migratórias, muda o acesso à nacionalidade para nascidos em solo francês e restabelece o “crime de residência ilegal”.
“A cozinha, herança francesa, deve parte da sua excelência à sua abertura ao mundo”, recordam os dois jovens chefs colombianos que participam do manifesto, Esteban Salazar e Juan Pablo Rojas Pineda, que primeiro lançaram um apelo nas redes sociais e que preparam agora um jantar beneficente no dia 29 de janeiro em Paris.
Lei segue contestada
Uma delegação de deputados dos quatro grupos de esquerda (LFI, PS, ambientalistas e comunistas) apelou contra a lei de imigração. Eles foram ouvidos na manhã desta terça-feira pelo Conselho Constitucional, que se pronunciará sobre a questão no dia 25 de janeiro.
O socialista Boris Vallaud, os deputados do partido de esquerda França Insubmissa Danièle Obono e Andrée Taurinya, o ecologista Benjamin Lucas e os comunistas Elsa Faucillon e Davy Rimane apresentaram, em entrevista coletiva, os seus argumentos contra o texto, considerado uma “vitória ideológica” da ultradireita francesa, representada por Marine Le Pen.
“Viemos defender o nosso apelo contra uma lei que a primeira-ministra, o ministro do Interior e o próprio presidente da República concordaram estar repleta de ataques à Constituição“, lembrou Boris Vallaud. O presidente do Partido Socialista na Assembleia Nacional [o Congresso francês] qualificou o texto como uma “lei anti-imigração”, que “normaliza os temas e o programa do [partido de ultradireita] Reunião Nacional”.
No dia seguinte à adoção do texto controverso, a então primeira-ministra, Élisabeth Borne, reconheceu que certas medidas eram inconstitucionais, e o próprio Emmanuel Macron remeteu o assunto ao Conselho Constitucional.
“Uma situação grotesca” para Benjamin Lucas. “Tanto na substância como na forma, o governo confundiu a lei com um panfleto inspirado na extrema direita”, criticou.
Denunciando “quarenta a sessenta artigos”, os deputados de esquerda exigem a derrubada total da lei. Eles se opõem, especialmente, ao condicionamento do acesso a determinados auxílios sociais ao tempo de residência, ao endurecimento das regras de reagrupamento familiar e à fixação de cotas de admissão no território francês.
“Há muitas outras coisas a fazer para permitir um acolhimento digno aos exilados e para promover a imigração, que não é um perigo, mas sim uma mais-valia para o nosso país”, argumentou Danièle Obono.