Em mais uma tentativa de minimizar a ocorrência de atitudes racistas nos jogos de futebol, a Fifa orientará as 211 federações a ela filiadas a focar de forma mais veemente o combate ao problema.
A entidade máxima do esporte, em sua reunião anual, que neste ano acontece na Tailândia, irá solicitar às federações que repassem aos clubes, que por sua vez repassarão aos atletas, o que um jogador deve fazer no caso de insulto racial.
Para avisar o árbitro, ele terá de cruzar os braços acima da cabeça, em atitude igual à de Raven Saunders, medalhista de prata no arremesso de peso nas Olimpíadas de Tóquio, em 2021.
A norte-americana, 28, que é negra, explicou o gesto que fez no pódio: “É a intersecção pela qual todas as pessoas oprimidas se encontram”. Para a Fifa, esse sinal deve se tornar mundial.
“Chegou a hora de o futebol se unir e se comprometer inequivocamente como comunidade global para abordar a questão do racismo no jogo”, escreveu a entidade em comunicado às federações.
Ao se deparar com um jogador executando o alerta, o árbitro deve seguir orientações já em vigor (nem sempre executadas): primeiro, parar o jogo e avisar, por meio do sistema de alto-falantes, o ocorrido a todos que estão no estádio; segundo, se necessário, retirar os times de campo; terceiro, como última providência, interromper definitivamente a partida.
A Fifa pretende criar uma comissão formada por futebolistas para monitorar a execução desse protocolo antirracismo mundo afora.
Manifestações racistas, sejam elas em campo –jogador contra jogador– ou ao redor dele –torcedor(es) contra jogador e torcedor(es) contra torcedor(es)–, são vistas com certa frequência em partidas de futebol.
Na Argentina, por exemplo, isso é recorrente, em jogos locais e internacionais, estes envolvendo especialmente equipes brasileiras, nos quais torcedores do time mandante são flagrados imitando macacos, com gestos e sons.
Os atletas negros são os mais visados, e Vinicius Junior, 23, que atua na Espanha pelo Real Madrid, tornou-se um símbolo das vítimas do ódio racial. Perdeu-se a conta das vezes em que ele foi alvo de ofensas.
No fim de março, foi comovente uma entrevista pré-jogo do brasileiro, na qual ele chorou ao comentar a situação.
O atacante declarou que tenta se concentrar o máximo para cada jogo, mas que nem sempre isso é possível. E que pretende continuar jogando na Espanha, pois sua saída significaria realizar a vontade dos que o xingam. “Se saio, estarei dando aos racistas tudo o que eles querem. Continuarei aqui lutando.”
Em relação a episódios discriminatórios envolvendo “raça, cor da pele, etnia, origem social, gênero, língua, religião, opinião política, saúde, local de nascimento, orientação sexual”, o estatuto da Fifa prevê “punição por suspensão ou expulsão”.
Os atos irregulares cometidos por jogador e/ou torcedor recaem sobre o clube, que corre risco de ser excluído da competição em disputa, perder pontos na mesma ou ser rebaixado de divisão.
No Brasil, as punições previstas pela CBF (a confederação brasileira) para casos de racismo no futebol são multa, perda de mando de campo, jogo com portões fechados e perda de pontos.
Na prática, porém, quase nada acontece, pois ao analisar os casos os tribunais das federações, ou as comissões organizadoras dos campeonatos, decidem não aplicar sanções ou suavizá-las, relativizando ou minimizando os acontecimentos.
Neste mês, por exemplo, a federação espanhola anulou decisão de fechamento parcial do estádio Wanda Metropolitano, do Atlético de Madrid, devido a gritos racistas dirigidos por torcedores a Nico Williams, atacante negro do Athletic Bilbao.
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