O candidato favorito na eleição presidencial do Panamá, José Raúl Mulino, prometeu “fechar” a selva de Darién para migrantes que passam pela região em direção aos Estados Unidos, sem dar detalhes.
“Vamos fechar Darién e vamos repatriar todas essas pessoas conforme necessário, respeitando os direitos humanos”, disse Mulino a jornalistas durante evento de campanha em Las Mañanitas, um subúrbio da capital panamenha.
Darién é o local de mata fechada, rios e morros na fronteira entre a Colômbia e o Panamá conhecida como “selva da morte“. A travessia feita por centenas de milhares de migrantes vindos da América do Sul se transformou nos últimos anos na maior crise migratória das Américas e uma das mais agudas do mundo.
O apelido não é exagero. Ao menos 379 morreram tentando atravessar a área nos últimos dez anos, segundo projeto da ONU que tenta registrar os óbitos —o dado é sabidamente subnotificado.
Mais de 520 mil pessoas, a maioria delas venezuelanas, cruzaram a selva inóspita em 2023. Este ano, mais de 120 mil fizeram a travessia, de acordo com números oficiais. A Folha visitou o local no começo do ano.
“A fronteira dos Estados Unidos, em vez do Texas, foi movida para o Panamá. Então, temos que fazer um trabalho trilateral [entre Estados Unidos, Colômbia e Panamá] e eles têm que entender que o Panamá não é um país de trânsito de imigrantes“, disse Mulino, que foi ministro da Segurança de Martinelli (2009-2014).
O candidato, no entanto, não deu qualquer detalhe de medidas possíveis para fechar a passagem, que se trata, na realidade, de uma série de rotas por rios e floresta tropical da região, controlada por grupos criminosos e com reconhecida corrupção das autoridades.
Mulino lidera a corrida à Presidência do Panamá com folga de 13 a 25 pontos percentuais, a depender da pesquisa. Ele substituiu Martinelli na cabeça da chapa em fevereiro, depois que o ex-presidente teve sua candidatura anulada após a Justiça confirmar sentença de prisão por lavagem de dinheiro.
“Não faço ideia do que se passa na cabeça deles. Fechar Darién é praticamente impossível”, disse Juan Pappier, diretor adjunto das Américas da ONG Human Rights Watch ao jornal britânico The Guardian.
“Restringir o fluxo levaria as pessoas a tomar caminhos ainda mais perigosos. As pessoas arriscarão suas vidas, os grupos criminosos organizados ficarão mais ricos e o Panamá terá ainda menos controle”, afirmou Pappier.