Você já parou para pensar qual o impacto das mudanças climáticas, conflitos, tendências de saúde e de estilo de vida sobre as plantações que cultivamos agora e aquelas que podemos precisar no futuro?
Esses são alguns dos temas abordados no relatório “As Plantas que Alimentam o Mundo”, da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, FAO, lançado nesta segunda-feira.
Desnutrição e supernutrição coexistem
Atualmente, o mundo depende de uma pequena quantidade de culturas, como trigo, milho e arroz, para suprir a maioria das necessidades calóricas. No entanto, existem de 7 a 30 mil espécies de plantas que podem ser consideradas comestíveis pelos seres humanos.
A FAO aponta que que a “cesta básica” precisará incorporar mais plantas, pois a compreensão da segurança alimentar está evoluindo.
Nos últimos anos a ênfase estava principalmente nas calorias necessárias para fornecer uma dieta básica e erradicar a fome. No entanto, cada vez mais o foco também precisa ser na nutrição, com base em conceitos como micronutrientes e macronutrientes.
Em muitos países, a desnutrição e a supernutrição coexistem à medida que as dietas sofrem mudanças radicais e os produtos processados muitas vezes suplantam os alimentos tradicionais. Com as tendências de sobrepeso e obesidade se tornando tão preocupantes quanto a fome, plantas nutritivas e não apenas calóricas, precisam ser incorporadas na cesta básica.
Crise climática e necessidade de adaptação
As tendências apontam mais consumo de vegetais, frutas, nozes e sementes por questões nutricionais, bem como proteínas à base de plantas, como leguminosas.
Segundo o estudo da FAO, cereais menos conhecidos e nutritivos, como milheto e sorgo, ou alternativas semelhantes a cereais, igualmente sem glúten, como quinoa e amaranto, também estão em alta.
O relatório ressalta que a crise climática está afetando os padrões globais de precipitação e as temperaturas. Com isso, certas variedades de culturas não estão mais crescendo bem em lugares onde antes prosperavam.
Por exemplo, o milho está se tornando difícil de cultivar em algumas partes da África. Os agricultores agora estão procurando outras culturas, como o milheto, que sejam mais adequadas à redução das chuvas.
Essas mudanças nos padrões climáticos significam que haverá mais necessidade de os países obterem variedades de plantas de outras partes do mundo para continuar ou melhorar sua produção.
Atualização da “cesta básica”
A mudança de gostos e tendências também está estimulando a demanda por novas variedades de culturas de agricultores que buscam melhorar seus meios de subsistência, seja cultivando quinoa ou cultivando feijão guandu.
Novas demandas também estão vindo de outros setores, como chefs que estão interessados em explorar os sabores e texturas dos grãos tradicionais, e muitas vezes mais sustentáveis.
O novo relatório, que reúne dados de 355 culturas, tem o objetivo de informar a atualização da cesta de culturas do Tratado Internacional sobre Recursos Fitogenéticos para Alimentação e Agricultura.
Recursos genéticos vegetais acessíveis
O texto foi adotado em 2001 para garantir que os recursos genéticos vegetais mais importantes para a dieta humana fossem preservados e utilizados de forma equitativa em todo o mundo.
Este acordo juridicamente vinculante enumera 64 das principais culturas que compõem a nossa “cesta alimentar” e cujos recursos genéticos são compartilhados por meio de bancos de genes através do Sistema Multilateral de Acesso e Repartição de Benefícios do Tratado Internacional.
O objetivo do Acordo é garantir que os recursos genéticos vegetais sejam acessíveis a todos, especialmente aos agricultores dos países em desenvolvimento.
O relatório da FAO estabelece as bases para permitir que a humanidade explore o potencial de milhares de outras plantas para atender às necessidades alimentares no futuro.