Funcionários humanitários alertam que a falta de bens essenciais na Faixa de Gaza deixa as pessoas mais vulneráveis na luta para sobreviver em meio ao calor extremo, combates intensos, expansão de doenças e ausência da lei e ordem.
Nesta quinta-feira, o Programa Mundial de Alimentos, PMA, revelou sua grande preocupação com desalojados que continuam traumatizados e aglomerados em uma área estreita do sul, ao longo da praia, expostos ao “calor escaldante do verão”.
Crescentes necessidades
O vice-diretor executivo da agência da ONU, Carl Skau, revelou que os “conflitos ativos e a ilegalidade” tornam “quase impossível” que as agências e seus parceiros atendam às crescentes necessidades.
Para o Escritório das Nações Unidas de Assistência Humanitária, Ocha, entre as realidades mais alarmantes estão a falta de leite e fórmula para bebês, juntamente com suplementos nutricionais para crianças e mulheres grávidas e lactantes.
Na quarta-feira, um relatório do escritório enfatizou que apesar dos sinais visíveis de definhamento entre as crianças “não houve nenhuma triagem nutricional para avaliar a escala da desnutrição e tratar os casos identificados”. O grande problema é a capacidade limitada para prestar o serviço na área.
O escritório destaca ainda que o atendimento pré e pós-natal não está disponível e alguns locais de deslocamento. Os pontos de observação médica operam “apenas algumas horas por dia”, sem suprimentos adequados de medicamentos e “relatos de partos de emergência” realizados em tendas sem apoio médico em altas horas.
Abrigos improvisados e tendas superlotadas
Em Rafah, no sul, “as pessoas continuam sendo deslocadas em meio a combates ativos e bombardeios”. Estimativas da Agência da ONU para Assistência aos Refugiados Palestinos, Unrwa, revelam que 65 mil pessoas permanecem na área.
Há seis semanas, a província do sul chegou a ter 1,4 milhão de habitantes antes das ordens de evacuação israelenses e operações militares que atrasaram o trabalho de assistência humanitária.
Os habitantes dos locais de deslocamento vivem em abrigos improvisados e tendas superlotadas que precisam urgentemente de reparos e não oferecem nenhuma proteção contra o calor extremo.
Em locais como Deir al Balah, Khan Younis e Al Mawasi vive uma população total de mais de 130 mil pessoas. Pela primeira vez desde o início de junho, o Ocha conseguiu que cinco caminhões de combustível tivessem acesso a Gaza. No entanto, a falta de suprimentos continua, “já que nenhum combustível foi entregue na Faixa nas últimas duas semanas”.
Quebra da lei e da ordem
Carl Skau, que visitou na semana passada esteve em Gaza, revelou que 1 milhão de deslocados continuam “presos, sem água limpa ou saneamento” no sul. Ele considera a situação “um desastre de saúde pública e proteção”.
Apesar da melhora do auxílio em algumas áreas, as pessoas precisam de vários alimentos mais nutritivos.
Há cada vez maiores dificuldades de entrega de ajuda essencial e os funcionários “passam de cinco a oito horas esperando em postos de controle todos os dias”, onde “mísseis atingiram as instalações, apesar de estarem agora menos afetadas pelo conflito.”
Skau destacou ainda que a quebra da lei e da ordem se traduz em “saques e na violência em meio a um grande vazio de segurança”.
Falta acesso humanitário no sul de Gaza
O representante relatou cenas de “destruição em larga escala e rios de esgoto”, além de “pessoas traumatizadas e exaustas… do sul ao extremo norte da Faixa”.
Algumas incursões terrestres e combates pesados continuam a acontecer em locais como Beit Hanoun, ao sul da cidade de Gaza, leste de Deir al Balah, nordeste de Khan Younis, bem como no centro e sul de Rafah.
As avaliações da ONU destacam a falta de acesso no sul de Gaza em necessidades como abrigo, saúde, alimentos frescos, água e saneamento num cenário de destruição de mais da metade das terras agrícolas da área.