As tempestades solares ocorrem na Terra desde que o planeta se formou, há bilhões de anos — trata-se do mesmo fenômeno que pode causar o apagão da internet. Os eventos naturais desse tipo costumam acontecer durante o auge do ciclo solar. A cada 11 anos, o Sol passa por um ciclo que aumenta a atividade solar durante os estágios finais desse período, com mais erupções solares e ejeções de massa coronal.
O último grande evento que mostrou as reações que o Sol pode causar durante o ciclo solar é conhecido como Evento Carrington, quando a estrutura solar liberou uma grande erupção que enviou poderosas correntes elétricas para Terra. Na ocasião, diversas pessoas relataram que a carga elétrica foi capaz de destruir sistemas telegráficos, causou incêndios e até eletrocutou alguns operadores de linha.
Desde então, a civilização nunca mais experimentou algo exatamente igual; segundo os cientistas, o cenário pode mudar durante o período de máximo solar previsto para ocorrer até 2025 — por isso, o apagão da internet é apenas um dos cenários possíveis. Fenômenos semelhantes aconteceram durante toda a história da Terra, mas o Evento Carrington foi o último grandioso observado pela ciência.
“A exibição auroral da noite passada era tão brilhante depois da meia-noite que uma impressão comum podia ser lida à sua luz. Impediu consideravelmente o funcionamento das linhas telegráficas e os seus efeitos continuaram até ao meio-dia, de hoje. A corrente auroral de leste e oeste era tão regular que os operadores das linhas orientais podiam enviar mensagens para esta cidade sem a aplicação das baterias habituais”, foi publicado no jornal Weekly West, na época do evento.
Os cientistas já conseguiram encontrar diversas evidências de outros eventos mais poderosos que ocorreram durante a história da Terra. Por exemplo, há aproximadamente 14,3 mil anos, uma tempestade solar deixou registros fósseis em árvores subfossilizadas que revelam uma grande erupção.
O que foi o Evento Carrington
O Evento Carrington ocorreu no início de setembro de 1859, quando uma tempestade solar atingiu o planeta após uma grande ejeção de massa coronal (CME) na atmosfera superior do Sol. Durante aproximadamente 17,6 horas, a tempestade viajou cerca de 50 milhões de quilômetros para chegar à Terra.
O evento foi nomeado em homenagem ao observador amador inglês Richard Carrington, que detectou a tempestade solar no dia 1 de setembro de 1859. Toda a observação durou apenas cinco minutos, e foi apenas quase um dia depois que a CME chegou no planeta.
Um estudo publicado em 2016 afirma que o Evento Carrington foi a primeira grande tempestade solar observada e relatada pela ciência.Fonte: Getty Images
Além de incêndios, choques e a limitação dos serviços de comunicação da época, o resultado do fenômeno foi ainda mais impressionante para os operadores de máquinas telegráficas. Eles relataram que os equipamentos continuavam sem funcionar corretamente um dia após o evento. Contudo, ao retirarem as baterias, perceberam que os aparelhos continuaram funcionando por meio da corrente elétrica causada pela CME.
Outro efeito impressionante foram as espetaculares auroras que puderam ser observadas em diversas regiões do mundo, como no sul de Cuba, no Havaí e no extremo norte do Chile. Segundo o History, foi a primeira vez que muitas pessoas puderam apreciar as auroras; inclusive, algumas até ficaram assustadas e acreditaram que o fim do mundo estava próximo.
As explosões solares são desencadeadas quando a energia magnética se acumula no Sol e é liberada inesperadamente; elas acompanham comumente ejeções de massa coronal. As partículas carregadas de eletricidade são produzidas durante a tempestade solar e enviadas para diversas regiões do espaço; em 2021, um estudo revelou que a explosão do Evento Carrington equivaleu a quase 100 bilhões de bombas nucleares de um megaton.
Tempestade Carrington e as repercussões históricas
Caso ocorresse atualmente, o Evento Carrington poderia acabar com a internet e causar um caos em todos os serviços que dependem da rede online. Em um artigo publicado em 2013, os cientistas sugeriram que um fenômeno semelhante também poderia resultar em grandes apagões de energia em todo o mundo e gerar um dano de até US$ 2,6 bilhões no setor energético.
Em outro estudo realizado em 2024, os investigadores sugerem que um acontecimento ao nível do Evento Carrington só ocorre entre 100 e 1000 anos. Os eventos 10 vezes mais fortes tendem a acontecer a cada 3 mil anos, já as tempestades solares 100 vezes ainda mais poderosas podem acontecer a cada 6 mil anos.
“Tempestades solares extremas podem ter impactos enormes na Terra. Tais supertempestades podem danificar permanentemente os transformadores das nossas redes eléctricas, resultando em apagões enormes e generalizados que duram meses. Uma compreensão precisa do nosso passado é essencial se quisermos prever com precisão o nosso futuro e mitigar riscos potenciais. Ainda temos muito que aprender. Cada nova descoberta não só ajuda a responder às principais questões existentes, mas também pode gerar novas”, disse o estatístico da Universidade de Leeds (Reino Unido), Tim Heaton.
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